Page 373 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Oh, ela tem razão! Está tudo bem. Há um caminho.

                         Quando Edmundo conseguiu alcançá-la, perguntou, excitado:

                         – Olhe, ali, uma sombra mexendo!...

                         – É a sombra dele – respondeu Lúcia.
                         – Acho que você tem razão, Lu. Como é que não vi Aslam antes?
                  Mas onde ele está?

                         – Ao pé da sombra, evidente! Não está vendo?

                         – Bem... por um instante acho que vi qualquer coisa. Está uma luz
                  tão esquisita.

                         – Para a frente, rei Edmundo – veio lá de trás e lá de cima a voz de
                  Trumpkin.
                         E ainda mais atrás e mais acima Pedro dizia:

                         – Vamos, Susana, dê a mão. Deixe de enjoamento. Qualquer criança
                  seria capaz de descer por aqui.

                         Passados alguns minutos, estavam no fundo do desfiladeiro, com a
                  água  rugindo-lhes  ao  ouvido.  Avançando  cautelosamente,  como  se  fosse
                  um gato, Aslam atravessou o rio, saltando de pedra em pedra. No meio da
                  corrente parou, baixou-se para beber e, ao levantar a cabeça, sacudiu a juba
                  orvalhada, virando-se para eles. Dessa vez Edmundo pôde vê-lo.

                         – Oh, Aslam! – gritou, precipitando-se a seu encontro. Mas o Leão
                  deu meia-volta e começou a subir a encosta do outro lado do Veloz.
                         – Pedro, Pedro! – gritou Edmundo. – Você o viu?

                         –  Vi,  vi  qualquer  coisa.  Mas  está  tudo  tão  confuso  com  este  luar.
                  Vamos em frente, e três vivas para Lúcia. Já nem me sinto tão cansado.

                         Sem hesitar, Aslam foi subindo à esquerda. Tudo naquela caminhada
                  era  estranho,  como  se  acontecesse  em  sonho:  o  rio  bramindo,  a  relva
                  úmida, os penhascos cintilantes... Mais extraordinário que tudo, a marcha
                  silenciosa do grande animal. Agora, todos o viam, menos Susana e o anão.

                         Outro atalho, tão íngreme como o primeiro, ziguezagueava por novos
                  precipícios,  muito  mais  altos  do  que  os  anteriores.  Longa  e  difícil  foi  a
                  subida.  Felizmente  a  lua  brilhava  bem  sobre  a  garganta,  de  modo  que
                  nenhum dos lados estava na sombra.

                         Lúcia estava quase desfalecendo quando a cauda e as patas traseiras
                  de Aslam desapareceram no alto. Com um esforço final, arrastou-se atrás
                  dele  e  encontrou-se,  ofegante  e  trêmula,  no  cimo  da  colina  que  tinham
                  tentado  alcançar  desde  a  partida  do  Espelho  d’Água.  Uma  vasta  encosta
                  alongava-se  suavemente  por  cerca  de  um  quilômetro,  coberta  de
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