Page 375 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 375
– Um pouco, Aslam – disse Susana.
– Pois bem! – continuou Aslam, em voz tão forte que quase parecia
um rugido, fustigando os flancos com a cauda. – Onde está aquele
anãozinho, esse famoso espadachim e arqueiro, que não acredita em leões?
Aproxime-se, filho da Terra, venha aqui\ – A última palavra já não parecia
um rugido, era quase um rugido de verdade.
– Com mil demônios! – murmurou Trumpkin, com a voz sumida.
As crianças, que conheciam Aslam o suficiente para perceber que ele
gostava muito do anão, não ficaram impressionadas. Mas com Trumpkin,
que nunca tinha visto um leão, e muito menos aquele, o caso foi diferente.
Fez a única coisa sensata que poderia fazer naquele momento. Em vez de
fugir, cambaleou na direção de Aslam, que se lançou sobre ele.
Você já viu alguma vez uma gata com o filhote entre os dentes? Pois
foi muito parecido. O anão,
encolhido num feixe miserável, pendia entre os dentes de Aslam, que
o sacudia. A pequenina armadura tilintou como se fosse um guizo e em
seguida... zztl... o anão foi atirado para o ar. Se estivesse na cama não
estaria mais seguro, mas ele não se sentia assim. Ao cair, as enormes patas
aveludadas envolveram-no como se fossem braços de mãe e depuseram-no
no chão (com a cabeça para cima e os pés para baixo).
– Filho da Terra, seremos amigos? – perguntou Aslam.
– S... S... Sim! – respondeu o anão, ainda ofegante.
– Bem, não tarda que a Lua fique encoberta. Vejam como a aurora
está rompendo. Não temos tempo a perder. Depressa, para o Monte! – disse
Aslam.
O anão ainda não conseguia dizer uma palavra, e ninguém se atreveu
a perguntar se Aslam iria com eles. Desembainharam as espadas, saudaram
o Leão e, voltando-se com um tinir de armaduras, desapareceram na luz
indecisa da manhã. Lúcia reparou que a expressão de cansaço lhes
desaparecera do rosto, e tanto o Grande Rei como o rei Edmundo pareciam
agora mais homens do que meninos.
As meninas, junto de Aslam, ficaram olhando até eles se perderem
de vista. O dia estava clareando. No oriente, perto da linha do horizonte,
Ara-vir, a estrela da manhã de Nárnia, brilhava como um pequeno sol.
Aslam, que parecia muito maior, levantou a cabeça, sacudiu a juba e rugiu.
O som, a princípio grave e vibrante como o de um órgão que se
começa a tocar em nota baixa, foi-se elevando e tornando mais forte, até
fazer vibrar a terra e o ar. Partindo da colina, espalhou-se pelo país todo.
No acampamento de Miraz, os homens acordaram, entreolharam-se