Page 380 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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dizer... ou...
– Acabem com isso! – pediu o rei Caspian. – Gostaria de saber o que
Nikabrik sugere que façamos. Mas, antes de mais nada, quero saber quem
são aqueles dois forasteiros, que estão ali parados, ouvindo o que se passa,
sem dizer uma palavra.
– São amigos meus – declarou Nikabrik. – Por que razão você
próprio está aqui, a não ser pelo fato de ser amigo de Trumpkin e do
texugo? E por que está aqui aquele velho bobo, vestido de preto, senão por
ser seu amigo? Por que só eu não poderia convidar os meus amigos?
– Você está falando com o rei, a quem jurou fidelidade! – disse
Caça-trufas com voz severa.
– Mesuras da corte! – debochou Nikabrik. – Aqui neste buraco, cada
um pode dizer o que pensa. Todo mundo sabe que este rapaz telmarino
nunca será rei de coisa alguma e de ninguém, a não ser que o ajudemos a
sair da embrulhada em que se meteu.
– Talvez os seus novos amigos prefiram falar por eles mesmos –
sugeriu o doutor Cornelius. – Vocês aí, digam quem são e o que pretendem.
– Digno doutor e mestre — ouviu-se uma vozinha fina e lamurienta –
, sou apenas uma velha, que, com sua licença, está muito grata a este digno
anão. Sua Alteza, abençoado seja tão formoso jovem, nada tem a recear de
uma velhinha quase entrevada pelo reumatismo e que nem mesmo tem
lenha para acender o fogo. Conheço algumas artes mágicas... nada que se
compare com as suas, digno mestre... pequenos feitiços e sortilégios, que
poderia usar contra os seus inimigos, se todos estiverem de acordo. Porque
detesto a todos eles. Mais do que ninguém.
– Hum! Tudo isso é muito interessante... Muito curioso! – disse o
doutor Cornelius. – Creio que já sei quem é a senhora. E agora, Nikabrik,
talvez o seu outro amigo também queira falar.
Um calafrio percorreu Caspian, quando uma voz cinzenta e pesada
respondeu:
– Sou a fome e a sede. Aquilo que eu mordo, guardo-o comigo até
morrer, e, mesmo depois da morte, têm de cortar do meu inimigo aquilo
que eu mordi e enterrá-lo comigo. Posso dormir cem noites sobre o gelo,
sem gelar. Sou capaz de beber um rio de sangue sem estourar. Mostrem-me
os seus inimigos.
– É na presença desses dois amigos que você propõe expor o seu
plano? – perguntou Caspian.
– É – respondeu Nikabrik. – E é com a ajuda deles que penso
executá-lo.