Page 383 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Nesse momento Nikabrik já gritava.

                         – Trata-se, portanto, de traição, Nikabrik? – perguntou o rei.

                         – Meta a espada na bainha, Caspian – disse Nikabrik. – É esse o seu
                  jogo,  assassinar-me  em  pleno  Conselho?  Não  se  atreva.  Acha  que  tenho
                  medo de você? São três do seu lado e três do meu: estamos iguais.

                         – Pois então, vamos! – rosnou Caça-trufas. Mas imediatamente uma
                  voz o interrompeu.
                         – Parem com isso! – gritou o doutor Cornelius. – Estão indo depressa
                  demais! A feiticeira está morta. Todas as lendas são unânimes nesse ponto.
                  O que, pois, Nikabrik quer dizer com invocá-la?

                         A voz cinzenta e pesada, que até agora falara apenas uma vez, voltou
                  a ouvir-se:

                         – Ah, sim. Está morta?...

                         E logo a voz estridente e lamurienta continuou:
                         –  Oh!  O  meu  querido  principezinho  não  deve  preocupar-se  com  o
                  fato  de  que  a  Dama  Branca  (é  assim  que  costumamos  chamá-la)  esteja

                  morta. Eminentíssimo doutor, está apenas querendo brincar com uma pobre
                  velha como eu, ao dizer isso. Amável doutor, sapientíssimo doutor, onde é
                  que  já  se  viu  uma  feiticeira  morrer?  É  sempre  possível  invocar  uma
                  feiticeira!
                         – Invoque – ordenou a voz cinzenta. – Estamos todos prontos. Trace
                  o círculo e prepare o fogo azul.

                         A voz de Caspian elevou-se sobre o rosnar cada vez mais forte do
                  texugo e a exclamação irritada de Cornelius.

                         – Com que então é esse o seu plano, Nikabrik? Você quer recorrer à
                  magia negra e invocar um espírito maldito? Já vejo agora quem são os seus
                  amigos: uma megera e um lobisomem!

                         Seguiu-se grande confusão. Os animais rosnavam e ouvia-se o tinir
                  do metal. Trumpkin e os meninos entraram correndo, e Pedro, de relance,
                  viu uma criatura cinzenta, horrivelmente descarnada, meio homem e meio
                  lobo, atirar-se a um jovem, que devia ter a idade dele. Ao mesmo tempo,
                  Edmundo  viu  um  anão  e  um  texugo  agarrados  um  ao  outro,  como  se
                  fossem dois gatos enfurecidos. Trumpkin encontrou-se frente a frente com
                  a megera, cujo nariz e queixo se projetavam como se fossem um quebra-
                  nozes,  e  seus  cabelos  cinzentos  e  imundos  caíam-lhe  sobre  o  rosto.
                  Agarrara o pescoço do doutor. Com um só golpe de espada, Trumpkin fez-
                  lhe saltar a cabeça. A luz apagou-se e durante algum tempo só se ouviu o
                  ruído de espadas, dentes, garras, punhos e pés.
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