Page 382 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Pelo barulho que se ouviu, Pedro teve a certeza de que três pessoas tinham-
                  se levantado de um salto.

                         – Sim! – disse Nikabrik, falando distinta e pausadamente. – Falo da
                  Feiticeira Branca! Precisamos de uma força, de uma força que se ponha ao
                  nosso lado. E não diz a lenda que a feiticeira derrotou Aslam e o algemou e
                  o matou sobre aquela mesa que está lá perto daquela luz?

                         –  A  lenda  diz  também  que  ele  ressuscitou  –  acrescentou  o  texugo
                  com voz cortante.

                         –  Sim,  há  quem  diga  isso...  –  respondeu  Nikabrik.  –  Mas  não  se
                  esqueça de que pouco se conta do que ele fez depois. Desapareceu logo da
                  história. Se de fato ressuscitou, como se explica isso? Não acha muito mais
                  natural que tenha continuado morto e que a lenda não fale mais dele pela
                  simples razão de que não há nada mais a falar?
                         – Foi ele quem coroou os reis e as rainhas – disse Caspian.

                         – Um rei que alcança uma grande vitória pode muito bem coroar-se a
                  si próprio, sem precisar da ajuda de um leão de circo – retrucou Nikabrik.

                         Nessa  altura  ouviu-se  um  rosnar  irritado,  muito  provavelmente  de
                  Caça-trufas.

                         – Seja como for – continuou Nikabrik – , que aconteceu a esses reis e
                  ao seu reinado? Desapareceram também! Com a Feiticeira Branca a coisa é
                  diferente! Dizem que reinou cem anos... cem anos de inverno sem parar. A
                  isso é que eu chamo poder. Isso tem sentido prático.

                         – Ora essa! — exclamou o rei. – Pois sabemos todos que ela foi o
                  pior inimigo de Nárnia! Não foi uma tirana dez vezes pior do que Miraz?
                         – Talvez. Talvez ela tenha sido inimiga dos humanos, se é que havia
                  alguns nesse tempo. Talvez tenha sido má para alguns animais. Parece que
                  foi ela que exterminou os castores: pelo menos não há vestígios deles. Mas
                  foi sempre leal com os anões, e eu, que sou anão, tenho de defender o meu
                  povo.  Afirmo  uma  coisa:  nós,  os  anões,  não  temos  medo  da  Feiticeira
                  Branca.

                         – Mas vocês são nossos aliados! – observou Caça-trufas.

                         –  E  temos  lucrado imensamente  com  isso,  sem  dúvida!  – ironizou
                  Nikabrik. – Quem é que vocês mandam  para as incursões perigosas? Os
                  anões!  Quando  falta  mantimento,  cortam  a  ração  de  quem?!  Dos  anões!
                  Quem...?

                         – Mentira! Tudo isso é mentira! – gritou o texugo.

                         –  E  é  por  isso  que,  se  não  são  capazes  de  ajudar  o  meu  povo,
                  procurarei alguém que o ajude!
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