Page 73 - Os Manuscritos do Mar Morto
P. 73
72
Com a intenção de retratar Jesus como sacerdote à maneira de Melquisedec, o
autor de Hebreus mostra o quão próxima está sua interpretação do modo como se
pensava em Qumran. Com esta comparação entre 11QMelquisedec e o importante
trecho de Hb 7:1-3, temos um importante “pano de fundo para a compreensão da
cristologia da Epístola aos Hebreus” (FITZMYER, 1997:146).
Outros indícios que podem ser considerados como paralelos são encontrados em
terminologias. Sentenças como “conhecimento da verdade” (Hb 10:26= 1QS 9:17;
1QH 8:29), “fruto de lábios” (Hb 13:15= 1QS 9:5,26; 10:8; 1QH 9:28), “fim dos
tempos” (Hb 9:26= 1QS 4:16; 1QM 1:8), são encontrados também nos textos
qumrânicos.
Nas epístolas agregadas ao bloco paulino é possível encontrar pequenos
paralelos com os escritos qumrânicos, no entanto, seu grau de significância é pequeno.
Se fôssemos analisá-los a fundo, teríamos de fazer regressões um tanto desnecessárias
que não viriam a acrescentar algo melhor do que o que fora destacado acima. No mais,
podemos dizer que ambos os caminhos propostos para que houvessem empréstimos
podem ter sido utilizados, principalmente o que remete à continuação das suas doutrinas
por seus círculos.
Paulo não só deixou-se influenciar, mas também influenciou comunidades
cristãs. Pessoas próximas a ele continuaram sua teologia, desenvolvendo-a sob sua base.
Ou seja, no caso destas epístolas em que vemos semelhanças com doutrinas qumrânicas,
podemos compreender sem dificuldades porquê e como elas se mantiveram em epístolas
não escritas por ele. A epístola que mais foge a essa regra é a de Hebreus, que de fato é
toda peculiar. Como o próprio Orígenes admitiu: “para expressar o meu parecer, diria
que os pensamentos são do Apóstolo (Paulo), mas... quem a redigiu, só Deus sabe”. 53
53
Citado por Eusébio, História Eclesiástica, IV, 14:25.