Page 89 - Os Manuscritos do Mar Morto
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                         Dediquei maior atenção aos hinos da natividade de Lucas, pois dentre todos os

                  existentes no NT, são os que permitem um estudo mais aprofundado. O fato de serem
                  hinos mais extensos ajuda em muito o seu estudo. Não é o caso do restante dos hinos do

                  NT.
                         Alguns dos  hinos  encontrados nos  outros livros  do  NT são caracterizados  por

                  conterem  expressões  salmódicas,  fórmulas  de  louvor,  doxologias  e  similares  (cf.
                  FREDERICO, 2001:86). Várias dessas expressões eram semíticas e acabaram inseridas

                  em escritos cristãos, mesmo de tradições diferentes. Por mais que o texto em que elas se

                  encontram não seja caracterizado como hino, a expressão utilizada remete às orações e
                  cantos recitados no século I pela população judaica. A mais famosa destas certamente é

                  a “’amen”. Essa exclamação usada normalmente ao final de um texto, asseverando uma
                  declaração, é bastante utilizada no AT para ratificar bênçãos (e.g. Jr 11:5) ou invocações

                  do mal (e.g. Dt 27:15-26) em expressões salmódicas e orações. A palavra “Amém” em
                  hebraico  significa  “assim  seja”  ou  “é  verdade”.  Foi  usada  amplamente  pelas  igrejas

                  primitivas com o mesmo sentido com que era usado no judaísmo. São vários os livros

                  do  NT  que  abrigam  o  termo,  o  que  prova  o  seu  uso  rotineiro  entre  as  várias
                  comunidades. 65

                         Outro  caso  é  o  do  termo  “hosana”  (do  hebraico  hoshi‘ah  na’,  “salve-nos!”),

                  usado  pela  população  ao  saudar  Jesus  em  sua  entrada  em  Jerusalém  montado  num
                  jumento (Mt 21:9,15; Mc 11:9,10; Jo 12:13). O termo provavelmente foi retirado dos

                  Salmos  –  mais  precisamente  do  Salmo  118  –  cantados  nas  épocas  em  que  havia
                  festividades no Templo. O aspecto messiânico que essa palavra representava certamente

                  fazia com que ela continuasse a ser usada pelas comunidades cristãs do século I em suas
                  petições  diárias.  Similarmente  à  importância  teológica  do  termo  hosana,  mas  com

                  apenas uma aparição nos textos do NT (1Cor 16:22), a expressão aramaica “maranata”

                  (maran  ’at’a)  está  relacionada  com  a  esperança  messiânica  das  comunidades  cristãs
                  primitivas.  Na  maioria  das  traduções  o  termo  é  entendido  como  “o  Senhor  vem”,

                  mostrando a crença já consolidada na segunda vinda de Cristo. 66



                  65  Textos em que se encontram o emprego do termo Amém no NT: Rm 1:25, 9:5, 11:36, 15:33, 16:27;
                  1Cor 14:16; 2Cor 1:20; Gl 1:5, 6:18; Ef 3:21; Fl 4:20; 1Tm 1:17, 6:16; 2Tm 4:18; Hb 13:21; 1Pd 4:11,
                  5:11; 2Pd 3:18; Jd 25; Ap 1:6, 3:14, 5:14, 7:12, 19:4, 22:20,21.
                  66
                    Com  menos incidência,  o  termo  às vezes é vertido  como  “o Senhor  veio”,  o  que muda  a forma de
                  pensar  sobre  a  compreensão  paulina  sobre  a  vinda  de  Cristo  em  sua  epístola  aos  coríntios,  já  que  a
                  esperança messiânica está intimamente relacionada com o passado/futuro. Nota da Bíblia de Jerusalém:
                  “Palavras  aramaicas  que  haviam  passado  para  a  linguagem  litúrgica;  exprimiam  a  esperança  da
                  Parusia (segunda vinda de Cristo) próxima”.
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