Page 94 - Os Manuscritos do Mar Morto
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                  paulinas,  sabe-se  que  possuem  datação  anterior  à  destruição  do  assentamento.  Esse

                  argumento, para alguns, é o suficiente para especulações de que o material escrito era
                  diretamente compartilhado em um link entre cristãos e a comunidade de Qumran. Essa

                  especulação é tão ousada quanto recusada no meio acadêmico.
                         Analisar  a  cronologia  certamente  não  é  o  suficiente  para  explicar  as  relações

                  ocorridas entre comunidades contemporâneas do princípio da era cristã. Se observados
                  outros  aspectos,  principalmente  temas  ligados  ao  conjunto  de  crenças  qumrânico,

                  percebe-se o quão difícil é estabelecer e provar paralelos; já que até hoje, sabe-se que o

                  número de diferenças é maior que o de semelhanças.
                         José O’Callaghan, jesuíta espanhol, disse ter encontrado partes do Evangelho de

                  Marcos e outros textos do NT escritos em grego, em fragmentos da Gruta 7 de Qumran.
                  De fato, a Gruta 7 é bem peculiar entre todas por possuir material escrito em grego.

                  Foram  encontrados  lá  o  livro  de  Êxodo  na  versão  da  Septuaginta,  uma  epístola  a
                  Jeremias (não presente no cânon hebraico, mas existente na versão grega), o livro de

                  Enoch e uma série de fragmentos não identificados, também em grego. Entretanto, os

                  textos  em  que  O’Callaghan  baseou  suas  comparações  são  muito  curtos,  o  que
                  evidentemente abre espaço para várias interpretações. Se estas proposições apresentadas

                  por ele estivessem corretas, muitas das teorias centrais acerca de Qumran teriam de ser

                  reconsideradas.
                         Após  perceber  que  falsos  paralelos  estavam  a  cada  dia  tomando  tempo

                  desnecessário  em  algumas  pesquisas,  o  rabino  e  professor  Samuel  Sandmel  (1911-
                  1979), no encontro anual da Sociedade Bíblica de Literatura (EUA), em 1961, instou

                  que  a  busca  perniciosa  por  analogias  entre  os  MQ  e  o  NT,  se  tornava  nas  mãos  de
                  alguns  eruditos  uma  espécie  de  “paralelomania”,  exageros  cometidos  na  busca  por

                  paralelos. Segundo ele:



                                          Podemos  para  nossos  propósitos  definir  paralelomania  como  uma
                                          extravagância entre os eruditos que primeiro excedem a suposta semelhança
                                          em  passagens  e  então  começam  a  descrever  a  origem  e  derivação
                                          insinuando  uma  conexão  literária  dentro  de  uma  inevitável  ou
                                          predeterminada direção (1962:1).


                         Sandmel  não  nega  que  existam  paralelos.  Pelo  contrário,  concorda  que  eles
                  existam e em grande número por sinal. Entretanto, os exageros, assimilações forçadas

                  entre uma fonte e outra criam relações apenas verossímeis.
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