Page 91 - Os Manuscritos do Mar Morto
P. 91
90
6. Ele tinha a condição divina,
e não considerou o ser igual a Deus
como algo a que se apegar ciosamente.
7. Mas esvaziou-se a si mesmo,
e assumiu a condição de servo,
tomando a semelhança humana.
E, achado em figura de homem,
8. humilhou-se e foi obediente até a morte,
e morte de cruz!
9. Por isso Deus o sobreexaltou grandemente
e o agraciou com o Nome
que é sobre todo o nome,
10. para que, ao nome de Jesus,
se dobre todo o joelho dos seres celestes,
dos terrestres e dos que vivem sob a terra,
11. e, para a glória de Deus, o Pai,
toda língua confesse: Jesus é o Senhor.
Aqui vemos a inserção da temática cristológica da seguinte maneira: a)
contradição entre a natureza terrena e divina e a abdicação desta última, b) morte
imerecida e humilhação pela cruz, c) ascensão triunfal em glória.
A disposição do hino segue uma estrutura mais ou menos similar à de outros
hinos. Neste caso, os versículos 6-8 referem-se ao aniquilamento, enquanto que os
versículos 9-11 refletem a exaltação. Esse hino parece ser um exemplar antigo das
primeiras comunidades judaico-cristãs anteriores a Paulo. “Os exegetas são quase
unânimes em ver neste texto um hino emprestado das comunidades e citado por Paulo”
(GOURGUES, 1995:67). Entretanto, esse antigo hino não foi enviado aos filipenses sem
que passasse antes por mudanças nas mãos de Paulo.
Se Paulo acrescentou esta frase a um hino já existente, deve ela valer como
um comentário destinado a seus leitores filipenses. Em uma cidade romana,
para os ouvidos de cristãos que certamente se sentiam orgulhosos de
pertencer a uma colônia romana (cf. At 16:10), esta menção da cruz devia
soar como algo de horrível e repugnante. Com efeito, a morte na cruz era
reservada aos escravos e às pessoas de classe social inferior. Ora, o Senhor
da Igreja consentiria em terminar sua vida em um patíbulo romano e, assim,
no modo de ver dos judeus, morrer sob o peso da condenação divina
(MARTIN, 1982:99-100, apud GOURGUES, 1995:70).
Na Epístola aos Colossenses, sem dúvida, o ponto alto é o hino cristológico em
1:15-20. O número de semelhanças deste hino com o de Fl é bastante interessante. A
“preexistência” é vista nos versículos 15-17 e no versículo 2:6 de Fl, além da “condição
divina” atestada no versículo 15, encontrada no mesmo versículo de Fl acima citado. É