Page 92 - Os Manuscritos do Mar Morto
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                  possível que a fonte dos dois hinos possa ter sido a mesma ou semelhante, somando-se

                  posteriormente a teologia e vocabulário de Paulo.
                         Dentre os hinos cristológicos, estes são os mais importantes. A riqueza destes

                  hinos  está  na  certeza  da  redação  paulina  (Fl)  e  sua  influência  (Cl),  de  serem  hinos
                  emprestados por Paulo e por mostrarem como pensava a primeira geração de discípulos

                  cristãos.  Além  disso,  são  ótimos  exemplos  que  mostram  como  foram  incorporadas
                  novas  temáticas  ao  cristianismo  e  como  estas  foram  assimiladas  pelas  comunidades.

                  Nestes  hinos  Jesus  é  apresentado  como  pré-existente,  de  natureza  divina,  fazendo-se

                  homem em condição de servo, sendo proclamado Senhor por este motivo.
                                                                                             68
                         Pertencentes a uma outra categoria, os hinos registrados em Ef 1:3-14;  1Pd 1:3-
                  5;  2Cor  1:3-4  e  Rm  11:33:36,  são  considerados  como  “hinos  a  Deus”,  dedicados
                  diretamente à Ele, porém, ainda assim fazem citação à pessoa de Cristo. Começam com

                  a expressão “bendito”, salvo na epístola aos Romanos (cf. FREDERICO, 2001:87).  69
                         Outras  epístolas  no  NT  que  possuem  hinos  são  as  do  bloco  conhecido  como

                  epístolas católicas. Estas recebem esse nome por não possuírem um destinatário fixo

                  como  uma  comunidade  ou  alguma  personalidade,  mas  por  terem  um  destino  mais
                  “universal”. Os hinos nela existentes se encontram em 1Pd 4:11; 5:10-11; 2:22-25; 3:18-

                  22; 5:5:5-9; 1:3-5 e Tg 4:6-10.

                         No último livro da Bíblia, o Apocalipse – que enfrentou diversos problemas para
                  sua canonização – , a música está relacionada com o culto celestial, trazendo à memória

                  o ritual na forma como era executado no Primeiro Templo de Jerusalém, transportando
                  toda  a  sua  organização  temporal  a  um  nível  celestial.  A  forma  usada  na  liturgia  do

                  templo  terreno  serviu  de  modelo  para  que  fossem  construídas  as  imagens  celestes
                  criadas por João neste livro. Por ele ter se espelhado em uma tradição mais antiga, a do

                  AT,  o  Apocalipse  pode  não  ser  considerado  um  bom  exemplo  para  ser  usado  como

                  prova de que as comunidades cristãs tinham a música utilizada em sua liturgia. Dentre
                  os poucos exemplos que mostram o uso da música nas primeiras comunidades cristãs, os

                  melhores são Cl 3:16 e Ef 5:19, já citados anteriormente. No entanto, se o objetivo for
                  encontrar  a  presença  de  literatura  hinária,  o  livro  de  Apocalipse  se  torna  um  dos

                  68  Também considerado um hino trinitário.
                  69
                    Estes são  textos  que estão  relacionados com a  “eulogia”,  do  verbo  grego  “eulogeo” –  abençoar.  A
                  semelhança  do  eulogetos  grego  (abençoado)  se  dá  com  o  baruk  hebraico  (abençoado).  Além  destas
                  passagens  relatadas  como  hinos  a  Deus  que  utilizam  a  expressão  abençoado,  na  Bíblia  de  Jerusalém
                  podemos encontra-los em: Mt 21:9; 23:39; Mc 11:9,10; 14:61; Lc 1:42,68; 13:35; 19:38; Jo 12:13; Rm
                  1:25; 9:5; 2Cor 11:31; 1Tm 1:11; e 6:15. São várias as situações em que estes termos aparecem próximos
                  a  expressões  doxológicas  e  formas  de  louvor,  o  que  mostra  que  na  prática  eram utilizados  da  mesma
                  maneira que na liturgia judaica.
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