Page 98 - Os Manuscritos do Mar Morto
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a vários motivos: ou estão muito decompostos (ilegíveis) pela ação do tempo ou
encontram-se num estado tão fragmentário que não é possível encaixá-lo em seu
quebra-cabeça – o manuscrito em sua totalidade. Alguns fragmentos possuíam apenas
uma única letra, algo que por si só torna praticamente impossível sua associação com o
manuscrito. O International Team tentou durante muito tempo montar esse quebra-
cabeça gigante, enfrentando diversos problemas técnicos para isso. No tocante à
manipulação do conteúdo dos documentos por parte da equipe – já que ela era acusada
de manipular (no sentido pejorativo do termo) os textos a seu favor – , foram vários os
ataques lançados por especialistas no assunto contra esse empreendimento.
A acusação de alguns (basicamente os de fora do International Team) era a de
que na montagem dos fragmentos fosse dado um sentido diferente do que o que o texto
queria dizer. Com a demora exagerada na publicação dos textos, inevitavelmente
criaram-se diversos rumores de que os MQ estavam trazendo à luz um conteúdo que
pudesse prejudicar as bases do cristianismo. Para solucionar isso (segundo os
acusadores), a forma encontrada pela equipe foi a de “relacionar os fragmentos de uma
forma que não viessem à tona informações prejudiciais”. Não sem razão, pesquisadores
lutaram contra a monopolização dos textos, e entre todas as críticas desferidas pelos de
fora, essa foi uma das mais importantes (embora só hoje tenhamos certeza de sua falta
de fundamentação).
A forma com que o International Team foi acusado de tratar os manuscritos
fragmentários com a suposta intenção de proteger o cristianismo teria sido similar à
utilizada por Eisenman: manipular partes menores para encaixá-las em uma idéia geral.
Foi necessário um bom tempo de estudo e a inclusão de muitos outros especialistas para
se concluir que o que os manuscritos não embaraçam a fé cristã, mas sim ajudam a
compreender melhor a sua gênese.
Podemos encontrar analogias em vários textos de Qumran. Fazendo delimitações
textuais – cortes arbitrários nas fontes a serem comparadas – , pode-se trabalhar melhor
com as possíveis analogias. Nos escritos hinários, por exemplo, normalmente os
manuscritos na Gruta 4, a mais importante. Lá chegando, destruíram o que conseguiram, deixando o que
sobrou em estado fragmentário. Esta gruta provavelmente foi uma das mais (ou a mais) freqüentadas
pelos de Qumran, uma vez que vestígios arqueológicos de madeiras que davam sustentação à caverna
foram ali encontrados. Isso mostra que esta gruta, embora de origem natural, foi adaptada para ocupação
humana. 2) a Gruta 4 foi descoberta primeiramente por pastores beduínos. Após saberem que arqueólogos
ligados a autoridades governamentais estavam pagando por pedaços de manuscritos, os beduínos
começaram a picar textos que eram originalmente maiores.