Page 250 - As Viagens de Gulliver
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CAPÍTULO VIII
      Regresso ao autor a Maldonada — Faz-se de vela para o reino de Luggnagg — É
            preso à sua chegada e levado à corte — Como é recebido.

      T endo chegado o dia da nossa partida, despedi-me de sua alteza o governador
      de  Glubbdudrib  e  voltei  com  os  meus  dois  companheiros  a  Maldonada,  onde,
      depois de ter esperado durante quinze dias, embarquei por fim num navio que se
      dirigia  para  Luggnagg.  Os  dois  fidalgos,  e  ainda  umas  outras  pessoas  mais,
      tiveram a gentileza de me fornecer provisões necessárias para essa viagem e de
      me  conduzir  a  bordo.  Apanhámos  um  forte  temporal  e  fomos  obrigados  a
      governar ao norte para podermos nos afastar de um certo vento forte, que sopra
      neste ponto por espaço de sessenta léguas. A 21 de Abril de 1709 entrámos no rio
      de Clumegnig, que é uma cidade com porto de mar ao sudoeste de Luggnagg.
      Lançámos ferro a uma légua da cidade e fizemos sinal para aparecer o piloto.
      Em menos de meia hora vieram dois a bordo, os quais nos guiaram por meio de
      escolhos  e  rochedos,  que  são  muito  perigosos  nesta  baía,  e  na  passagem  que
      conduz a uma bacia onde os navios estão em segurança e que está afastada dos
      da cidade o comprimento de um cabo.
          Alguns  dos  nossos  marinheiros,  fosse  por  traição,  ou  por  imprudência,
      disseram  aos  pilotos  que  eu  era  um  estrangeiro  e  um  grande  viajante.  Estes
      avisaram o comissário da alfândega, que me dirigiu diversas perguntas na língua
      balnibarbiana,  que  é  compreendida  nesta  cidade  em  virtude  do  comércio  e
      principalmente pela gente do mar e aduaneira. Respondi em poucas palavras e
      narrei  uma  história  tão  verossímil  e  tão  extensa  quanto  me  foi  possível;  no
      entanto, julguei conveniente ocultar o meu país e de me intitular holandês, com
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