Page 128 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
P. 128

Se não se pode prever seu fim, pode-se ao menos mencionar o início. Foi a partir
               das ideias desenvolvidas em Freire (1996, p. 30) sobre a inconclusão humana, e sobre a

               ideia  de  que  “ninguém  educa  ninguém,  ninguém  educa  a  si  mesmo,  os  homens  se
               educam entre si mediatizados pelo mundo” e a partir da sistematização de Pineau (2018,

               p. 01) “entre a ação dos outros (heteroformação) e a do meio ambiente (ecoformação),
               parece existir, ligada a estas últimas e dependente delas, mas à sua maneira, uma terceira

               força de formação, a do eu (autoformação)”, que o conceito de “autoformação” ganhou
               relevância  e  se  apresentou  como  um  caminho  entrelaçado  em  outros  percursos,

               sugerindo a possibilidade do sujeito de se construir e reconstruir, se refazer por si, de
               pensar  e  repensar  suas  escolhas,  seus  sentidos,  sua  formação,  que  esse  projeto  foi

               ganhando forma.
                       Pelas “histórias de vida em formação” e “prática no campo de uma reflexão que

               vê no próprio curso da vida um movimento de autoformação” (DELORY-MOMBERGER,
               2008,  p.  93-94)  foi  possível  identificar  e  construir  suportes  teórico-práticos  para  a

               compreensão das histórias de vida como processo de formação, ou como


                                      [...] os pressupostos teóricos que inspiram os procedimentos de formação pelas
                                      “histórias de vida” podem ser apresentados sinteticamente sob dois aspectos:
                                      o primeiro diz respeito ao estatuto da narrativa na “experiência” que o sujeito
                                      faz de si mesmo por meio da produção de sua “história”; o segundo concerne à
                                      dimensão  de  “projeto”  constitutiva  da  “história  de  vida”  e  do  processo  de
                                      formação (DELORY-MOMBERGER, 2008, p. 95, aspas e grifos da autora).


                      Para Dominicé (2006, p. 350), “a formação pode intervir como retomada do curso
               da  vida”,  sendo  um  pouco  assim  que  me  sinto.  Para  essa  autora  a  autoformação
               possibilita ao ser humano a reflexão de si mesmo, na dinâmica da auto observação, para

               o alargamento das capacidades de autonomização, de iniciativa e criatividade. Assim “a

               formação pessoal, social, profissional e ética na perspectiva da autoformação requer que
               cada Eu na relação com o outro possa ser pesquisador de si mesmo” (DOMINICÉ, 2006,
               p. 350).

                      Logo,  como  afirma  Souza  (2007)  trabalhar  com  a  memória,  seja  a  memória

               institucional  ou  a  do  sujeito,  faz  emergir  a  necessidade  de  se  construir  um  olhar
               retrospectivo e prospectivo no tempo e sobre o tempo reconstituído como possibilidade
               de investigação e de formação de professores. “A memória é escrita num tempo, um

               tempo  que  permite  deslocamento  sobre  as  experiências.  Tempo  e  memória  que

               possibilitam conexões com as lembranças e os esquecimentos de si, dos lugares, das
                                                                                                       126
                       PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
   123   124   125   126   127   128   129   130   131   132   133