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Saber por que tais teorias tinham  esse horror à miscigenação  é

                  conduzir a curiosidade intelectual para um dos pontos-chaves  que
                  distinguem e esclarecem o “racismo à européia” ou “à americana” e

                  o nosso conhecido, dissimulado e disseminado “racismo à brasileira”.

                         Tome-se o exemplo mais famoso dessas  idéias, o Conde de

                  Gobineau, que, inclusive, residiu no Rio de Janeiro como cônsul da

                  França e se tornou amigo e interlocutor intelectual de  nosso
                  Imperador, D. Pedro II. Ele diz claramente, num livro célebre pelas

                  idéias racistas e pelos erros no que diz respeito à Antropologia  das

                  diferenciações humanas, que é possível dividir as “raças” de acordo

                  com três critérios fundamentais: o intelecto, as propensões animais e
                  as manifestações morais. No curso dessa obra, significativamente

                  intitulada A diversidade moral e intelectual das raças (publicada em

                  1856), Gobineau, entretanto, não realiza um exercício simplista, no

                  sentido de dizer que a “raça” branca era superior em tudo. Há
                  muita inteligência nos preconceitos e nos autoritarismos. Muito ao

                  contrário, ao comparar, por exemplo, brancos e amarelos no que diz

                  respeito às suas “propensões animais”, ele  situa  os  primeiros  abaixo

                  dos segundos. Quem não se salva, porém, como infelizmente

                  acontece até hoje na nossa sociedade, são os negros, sempre e em
                  tudo situados abaixo de brancos e amarelos.


                         Mas onde Gobineau realmente  excedeu a si mesmo e ousou
                  com confiança inusitada, mesmo para quem estava imbuído de uma

                  ideologia autoritária de sua própria superioridade, foi na previsão de

                  que o Brasil levaria menos de 200 anos para se acabar como povo! Por
                  quê?  Ora,  simplesmente  porque ele via com seus próprios olhos, e

                  escrevia revoltado  a  seus amigos franceses, o quanto a nossa

                  sociedade permitia a mistura insana de raças. Essa miscigenação e

                  esse acasalamento é que o certificavam do nosso fim como povo e

                  como processo biológico. Seu problema, conforme estou revelando,
                  não era a existência de raças diferentes, desde que essas “raças”
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