Page 69 - O Que Faz o Brasil Brasil
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As festas permitem descobrir oscilações entre uma visão alegre e
uma leitura soturna da vida. Permitem igualmente inventar
temporalidades diferenciadas, pois promovem uma duração muito
rápida — com tudo podendo acontecer no momento da festa,
como é o caso do carnaval — ou muito lenta e pesada, como
acontece com quase todos os rituais da ordem, ou formalidades.
Todas as festas — ou ocasiões extraordinárias — recriam e resgatam o
tempo, o espaço e as relações sociais. Nelas, aquilo que passa
despercebido, ou nem mesmo é visto como algo maravilhoso ou
digno de reflexão, estudo ou desprezo no quotidiano, é ressaltado e
realçado, alcançando um plano distinto. Assim, é na festa que
tomamos consciência de coisas gratificantes e dolorosas. Que não
podemos comparecer porque não somos da mesma classe social;
que não podemos desempenhar papel importante porque não somos
daquela corporação; que somos bons dançarinos e que valsamos
com graça e leveza, pois na festa alguém assim nos disse; que aquela
moça é realmente linda porque assim se apresentou no baile de
formatura; que nosso amigo é excelente orador porque foi a festa
que o destacou como tal. Como se observa, são inúmeras as
situações em que a festa promove a descoberta do talento, da
beleza, da classe social, do preconceito e da alegria. Não seria
possível esgotá-las. Mas posso distinguir, e assim devo proceder, as
festas da ordem daquelas que promovem a “desordem” ou a orgia,
que fica no limite do crime e da revolta.
Sustento que, no caso brasileiro, todas as solenidades permitem
ligar a casa, a rua e outro mundo. Só que cada uma delas faz essa
ligação de modo específico e a partir de posições diferentes. O
carnaval liga casa, rua e outro mundo querendo e propondo a
abertura de todas as portas e de todas as muralhas e paredes. Os ritos
cívicos e religiosos — as festas da ordem por excelência — fazem o
mesmo, mas suas propostas são diferentes. De fato, nos carnavais e
orgias, o propósito básico parece ser o de igualar e juntar. Seu