Page 33 - LIVRO - FILOSOFIA COMO REMÉDIO PARA A SOLIDÃO - PUBLICAR
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Djason B. Della Cunha | 33
nada sem a solidão”, ou mesmo como afirma Lowell:
“A solidão é tão necessária para a imaginação como a
sociedade é saudável para o caráter”.
Mas, se a solidão é tão importante para a realiza-
ção da criatividade do ser humano, como afirmam al-
guns pensadores, por que o ser humano se sente sozi-
nho e chega a sofrer com este vazio da presença do ou-
tro em sua vida?
Porque, neste caso, ser só é inteiramente diferente
de estar sozinho. Estar sozinho é a situação em que o
outro não se faz presente. E aí se sofre com a solidão
porque ela constrange a lembrar, de modo insistente, o
quanto o outro tem significado em nossas vidas. É pre-
ciso aceitar a realidade de que o ser humano é um ser
eminentemente relacional, que vive a partir do outro e
que se experimenta em suas emoções a partir da evi-
dência do outro, este outro que nos acontece, muitas
vezes, como um abismo, um inferno, um antagonismo,
porém, sem o qual jamais haveria o sentido da liber-
dade.
Em regra, estar sozinho, é quando o sujeito inter-
rompe as suas atividades na máquina do mundo, sur-
gindo para ele a possibilidade de deparar-se com a vida
pessoal. Este é o momento que se lhe apresenta como
um esvaziamento operacional, uma desocupação que
remete a pessoa diretamente a ela mesma. Este é o mo-
mento de contato com a solidão, momento que des-
perta ou aflora o contato com questões difíceis da exis-
tência. Neste instante, a solidão pode estar associada a
inúmeros aspectos da vida que, por sua vez, podem
suscitar diversos focos de experiência emocional: a
falta real da presença do outro, o drama da velhice, os
sentimentos de culpa religiosa, os estados associados