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34 | Filosofia como Remédio para a Solidão
ao tédio e, por vezes, ao suicídio. É neste instante de
extrema inquietação que o sujeito pode dar-se conta de
que o tédio é a dor de ver a existência passar e não estar
vivendo todas as possibilidades que a vida lhe oferece
para viver e usufruir.
Porém, sentir-se só tem tudo a ver com aquilo que
se revela como falta de perspectiva de crescimento, de
estar no mundo e não se sentir presente nele, pois há o
sentimento da vivência de uma vida sem sentido. Isto
tem íntima relação com a percepção do tempo e da an-
gústia, através da qual a solidão enreda uma falta de
cuidado, um descaso, uma indiferença em relação a si
mesmo, uma paralisia de intenções do sujeito diante da
impossibilidade de realização de suas aspirações.
Este é o tempo da inércia, do vazio, onde a palavra
não mais ordena, dando lugar a um estado onde o corpo
se repete em um movimento estereotipado de presença
e ausência.
Este é o esquema temporal do auto esquecimento,
onde a solidão se manifesta em graus alterados de vi-
vência, associada à percepção de que nada tem mais
sentido e onde o sujeito mergulha no horizonte da de-
sorientação em relação ao futuro e do desequilíbrio e
da depressão em relação ao presente.
Este é também o tempo em que o sujeito se coloca
diante da incompletude, da incerteza de sua existência
em relação à continuidade da vida. É o tempo do auto-
esquecimento, que se oferece como proposta de desis-
tência, de renúncia, de desinvestimento pulsional nos
objetos do mundo. É o tempo de se saber como um ser
para a morte.