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36 | Filosofia como Remédio para a Solidão
introspecção até os extremos de seus limites. Na ver-
dade, a solidão criativa pode “apresentar facetas de en-
cantamento inigualável. Ao mesmo tempo que se apre-
senta desesperadora, por outro lado nota-se a própria
essência da vida existindo somente a partir da soli-
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dão” . Aqui, a angústia – sinônimo de desesperança e
abandono de si mesmo – pode potencializar a imediata
expressão do “cuidado” que conduz à escolha de si
mesmo, de tal modo que o sujeito, ao optar por esco-
lher a si mesmo, está a optar pela vivência no cotidi-
ano, por caminhar em direção ao futuro, pela compre-
ensão de que a morte não é parte essencial da vida, mas
apenas uma contingência, uma interrupção escanda-
losa no caminho do todo.
Este é o processo dialético que permite o desejo
da retomada da vida, mesmo diante da angústia, da va-
cuidade ou da culpa experienciada pelo sujeito. Na re-
alidade, a solidão não é necessariamente o estado de
ausência do outro ou da morte em si, mas a falta de
significação, ou ainda da presença do emudecimento
da perspectiva de um projeto de realização pessoal.
Neste contexto, portanto, a solidão tem o sentido
de resgate. Surge como um locus de concepção e de
revivência. Formula um posicionamento que, assu-
mido por uma atitude criativa, coloca o sujeito outra
vez no seio da existência e dimensiona o tempo no es-
paço contextualizado da vivência que, por sua vez, de-
manda administração. Desta forma, a temporalidade
não é algo externo à vida da pessoa, é a condição pos-
sível da própria existência. Existir é existir no tempo e
2 . ANGERAMI – CAMON, Valdemar Augusto. Solidão: a au-
sência do outro. São Paulo: 1992.