Page 35 - LIVRO - FILOSOFIA COMO REMÉDIO PARA A SOLIDÃO - PUBLICAR
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Djason B. Della Cunha | 35
Sobre esta questão da falta que se estabelece como
necessidade de realização de si mesmo ou de se esta-
belecer algo que nos move para o futuro, afirma Ni-
etzsche: “quem tem um por viver, suporta qualquer
como. A falta disso estabelece um vazio existencial
que se configura no tédio e na angústia”.
Neste sentido, a noção de angústia – tema central
da concepção existencial de Heidegger – aparece como
uma característica ontológica (condição original do
ser) enraizada na existência. No tocante à solidão, a
angústia pode representar a experiência iminente do
“não-ser” e se colocar na existência como uma ameaça
à subjetivação do Eu, esse estado subjetivo da consci-
ência através do qual o sujeito se experimenta como
expressão individual de perda de si mesmo e do
mundo.
Mas, tudo isso está ligado a um tipo de percepção
que estabelece no sujeito uma atitude em relação a si
mesmo. Este é o momento ideal para se descobrir se,
de fato, estar sozinho é a mesma coisa que solidão ou
é a rara oportunidade de alguém desacelerar e prestar
atenção em si mesmo, em suas escolhas, sucessos e fra-
cassos, oportunizando, assim, a moldagem do seu fu-
turo.
Por isso, que gostamos de dizer que, muitas vezes,
a solidão traz igualmente a possibilidade de ser um ca-
minho de expressão individual que dá passagem ao
existir. Trata-se aqui da solidão criativa que se traduz
pela exigência de optar por estar só. Esta é uma atitude
que implica no afastamento da solidão desesperadora
e que permite um isolamento de enriquecimento, de
descoberta, de redefinição de vida, de projetos, de in-
vestimento pulsional, no sentido de permeabilizar uma