Page 16 - ASAS PARA O BRASIL
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Eu realmente usei o chapéu de “burro” um dia inteiro, numa
indiferença geral, em frente a uma turma de alunos
desdenhosos que tinham o costume de rir do meu sotaque e do
meu péssimo francês.
Eu preferia de longe as lembranças dos filmes westerns que eu tinha visto
durante a minha estadia no Chile com as cavalgadas épicas dos caubóis e
dos índios nas imensas extensões.
Minha educação tinha sido impregnada por visualizações de violência, de
cenas de amor e de maldade, e tudo isso me fazia sofrer de ansiedade
residual tornavam a natureza humana incompreensível para mim.
Uma de minhas primeiras namoradas era frequentemente minha vítima,
amarrada numa árvore, um totem improvisado no meio da pequena praça
que ficava na frente de casa; a coitada era a testemunha assustada das
minhas danças desvairadas e gritarias.
Eu era meio o selvagem do canto.
Os estudos não me interessavam, eu só queria me divertir e viver com a
minha família.
A humildade não era a minha virtude principal: eu era raivoso, indócil,
temerário, ofensivo pelos meus gestos, eu era uma verdadeira peste.
Mas esse preceptor rigoroso e esse ambiente duro e difícil neste campo
onde as coisas simples e o bom senso eram as únicas regras de
sobrevivência marcaram e moldaram fortemente a minha personalidade.
Meus estudos na França foram marcados por sucessivas passagens em
colégios e pensões, que se confundem na minha memória e onde eu era
mandado embora rapidamente, sem compaixão. Foram muitas. A vida
como pensionista com os padres era ritmada pela missa que eu servia bem
cedo de manhã vestido com calções curtos; Meu Deus! Como era frio o piso
de mármore!
Do Sacramento à Confirmação recebida pelo bispo, eu só guardei a
lembrança de um pequeno tapa na cara. Eu guardei uma lembrança ruim
do meu período com os padres e suas intermináveis aulas de catecismo e
homilias.