Page 17 - ASAS PARA O BRASIL
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Como eu não era um aluno particularmente brilhante e que os fins de
semana eram sinônimos de castigo que eu recebia muitas vezes em plena
face, sexta feira ao meio dia, com a palavra “retenção”; isso significava que
eu não podia voltar para a minha casa em Paris. Durante esses fins de
semana, eu copiava durante horas, com rancor, textos desprovidos de
qualquer inteligência.
Com a minha pluma, eu preenchia de maneira abestada, páginas e páginas;
eu preenchia no mínimo quatro páginas por hora. Não é de se estranhar
que toda a minha vida eu tenha tido tanta aversão pela escrita e pelos
professores. A inclusão escolar ainda não existia na minha época.
O francês é um belo idioma, mas muito complexo, fundado na razão, que a
aristocracia do Século dos Iluministas nos deixou como legado, e tão
arduamente preservada pelos nossos intelectuais e pela Organização da
Francofonia. Eu sempre tive muitas dificuldades em assimilá-lo e ainda
é assim hoje.
Na França, se você não tiver um diploma, as chances de ser bem-sucedido
são remotas. Existe também certa discriminação nefasta, se você não veio
das elites das grandes universidades.
“O verdadeiro poder é o conhecimento”, como diria o nosso caro filósofo
do Reino da Inglaterra, Francis Bacon (1561).
Eu sempre me perguntei por que os meus pais me haviam abandonado
neste universo impiedoso das escolas e pensões.
A desculpa que me foi dada era de que o apartamento de Paris era muito
pequeno para toda a família, o que era verdade, porém injusto a meu ver.
Eu me sentia sacrificado, mal-amado.
Quando eu passava alguns raros fins de semana em casa, dormia numa
cama metálica dentro de um pequeno cubículo e me levantava cedo de
manhã para ir buscar o pão e o leite para a família.
Aos doze anos, eu já era alto e pela primeira vez, ganhava meu primeiro
dinheirinho na feira de Loucas (Saone-et-Loire). Eu consegui ser
contratado por alguns dias num carrossel de carros de choque.
Eu devia pular agilmente de carro em carro para recolher o dinheiro dos
clientes. O trabalho era cansativo, talvez até um pouco perigoso,
movimentado, mas do meu ponto de vista, bem pago! Mais tarde, eu lavei
carros durante os fins de semana para ganhar uns trocados.