Page 54 - ASAS PARA O BRASIL
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Em seguida, tivemos que fazer uma longa e penosa investigação na
                  Islândia, junto a nossos guias locais que haviam acompanhado os médicos
                  nos ônibus. Seus testemunhos eram unânimes: nenhum médico assinalou
                  ter sido queimado. O caso foi encerrado sem ação judiciária, mas tivemos
                  que passar por uma laboriosa investigação durante longos meses. Quanta

                  má-fé e desonestidade!

                  Mas a verdadeira tragédia também pode ocorrer. Uma noite, por volta das
                  23 horas do dia 8 de outubro de 1979, eu fui acordado pelo Ministro do
                  Interior em pessoa, que me informou sobre o acidente de um avião, em
                  Atenas, com nossos clientes a bordo.


                  Fui logo até o escritório da Rua Royale para recuperar os documentos dos
                  seguros, numa noite fria e brumosa, vestindo um impermeável.

                  Em seguida, telefonei para o meu presidente que se encontrava em Buenos
                  Aires, para avisá-lo do acidente.


                  O  serviço  de  plantão  da  companhia  de  seguros,  que  eu  avisei
                  imediatamente,  organizou  um  voo  médico  a  partir  do  aeroporto  do
                  Bourget, me pedindo para viajar com os documentos a bordo.

                  Chegando a Atenas, ao amanhecer, no avião sanitarista pilotado por uma
                  mulher, a torre de controle recusou a autorização de aterrissagem.


                  Isso  não  foi  suficiente  para  desencorajar  a  piloto.  Antes  de  aterrissar,
                  demos voltas da carcaça ainda fumeante do DC8 acidentado.

                  Esses passageiros de “Tout-Paris” iam para a China.


                  Eu reuni rapidamente os sobreviventes chocados, mas em boas condições,
                  num hotel próximo ao aeroporto; na chegada, vários feridos graves foram
                  distribuídos em hospitais de Atenas.

                  Com  a  lista  de  passageiros,  eu  pude  dificilmente  localizar  todos  os
                  sobreviventes. Levou muitas horas para convencer as vítimas a se reunirem
                  no hotel escolhido.


                  Nessa situação de pesadelo, eu tentei fazer o melhor que pude para apoiá-
                  los moralmente e materialmente (e até fisicamente em alguns casos). Além
                  do  choque  imenso  que  tinham  sofrido,  não  tinham  mais  bagagens  nem
                  documentos de identidade. O Consulado da França foi avisado do acidente,
                  eu tive que comunicar a eles a lista de nossos viajantes.
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