Page 59 - ASAS PARA O BRASIL
P. 59

A primeira vez que fui a Hong Kong foi uma recepção surpreendente;
                  havia um chinês baixinho, todo vestido de branco, com um boné preto com
                  a inscrição do nome do hotel, subindo em cima de uma vara, segurando um
                  cartaz vermelho com pequenos sinos em forma de xilofone, com o meu
                  nome escrito.


                  Ele se apressou em pegar a minha bagagem para
                  colocá-la  em  uma  Rolls-Royce  Phantom  branca
                  dos anos 1930, estacionada na primeira fileira. Eu
                  me senti desconfortável diante de tanta deferência
                  e gratidão a qual eu não estava acostumado.


                  Essa recepção foi realmente inesquecível. Era a primeira vez que eu subia
                  numa Rolls Royce.

                  O Bernard, que acolhia três missões sucessivas, tinha pedido para eu ficar
                  em  Pequim  entre  esses  deslocamentos  oficiais.  Ele  teve  o  tempo  de
                  descobrir qual era a realidade da vida chinesa.


                  Ele me contou alguns trechos:

                  “Era noite quando fui a Pequim pela primeira vez. Por ‘falta de quarto’,
                  fiquei hospedado num hotel funcional, de cimento e conforto espartano,
                  reservado para os acompanhantes dos países do Leste. O café da manhã era

                  tomado ao amanhecer, numa mesa comum.

                  Eu me arrisquei numa saída para visitar Pequim, mas o hotel era vigiado
                  por soldados vestidos com trajes verdes, com o fuzil à bandoleira, com a
                  baioneta  no  cano.  Os  uniformes  pareciam  grandes  neles.  Acabava  de
                  amanhecer e uma avenida interminável se perdia na neblina.

                  Muitos  ciclistas  se  cruzavam,  não  havia  carros,  mas  somente  velhos

                  trólebus azuis e brancos ou ônibus barulhentos com o tubo escapamento
                  grosso.

                  Nós, os guias, fomos levados a hotéis diferentes onde estavam os nossos
                  clientes.  Passei  dois  dias  conversando  obstinadamente  através  de  dois
                  intérpretes, uma francesa e um chinês, para que eu integrasse o bom hotel
                  Pequim.


                  Eu nunca esquecerei as primeiras impressões dele. Em seguida, fiz muitas
                  viagens à China, mas essa impressão permaneceu.

                  Desde  aquele  tempo,  a  China  acordou,  e  tornou-se  a  primeira  potência

                  econômica mundial em 2015.
   54   55   56   57   58   59   60   61   62   63   64