Page 56 - ASAS PARA O BRASIL
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Os acidentes de avião nunca parecem produzir-se de maneira
isolada. Enquanto eu me recuperava da minha catástrofe, em 1984, uma
amiga aterrissava no México D.F., em frente das ruinas fumegantes de um
DC10 da companhia “Aero México”, após uma colisão com um avião
privado.
Esse acidente revelou a gestão desastrosa e a falência da companhia
nacional mexicana, devido em grande parte a desvios de dinheiro do seu
último presidente.
Para recuperar-me de todas estas emoções, um
amigo me convidou ao cinema “Normandia” para a
eleição de Miss Universo.
Era a primeira vez que eu assistia a esse tipo de
espetáculo e só tinha visto o desfile final. Quando
acabei de me sentar, ouvi um barulho de queda
atrás de mim.
Eu virei e vi uma Miss estatelada no chão,
provavelmente devido ao salto alto. Como um
perfeito cavalheiro, fui resgatá-la e em seguida
começamos a conversar em inglês. Sharon
Eu a segurei cortesmente, como um perfeito galã, até o seu hotel que ficava
perto dali.
Um médico de plantão foi chamado e a Sharon, era seu nome, se queixava
muito de uma torsão no tornozelo.
Soube mais tarde, que ela tinha sido a Miss Universo daquele ano e que
havia servido no Exército de Israel.
Orgulhoso feito um pavão, eu me exibia com ela nos restaurantes da moda,
evitando as discotecas, onde era comum que personagens mal-educadas se
convidar à nossa mesa, sem escrúpulos, com o pretexto súbito de uma
longa amizade.
Ela era muito espetacular e sem futuro para mim - vivia para o seu espelho.
Ela partiu para os Estados Unidos para fazer cinema. Nos vimos uma só
vez, muitos anos depois, em Paris. Ela havia emagrecido e notei umas
marcas preocupantes, roxas e vermelhas de picadas, na cavidade do
cotovelo. Meu nojo pela droga nunca tinha sido tão forte. Eu perdi vários
amigos para esse pesadelo.