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Capítulo 7
após a chegada dos rejeitos, geraram uma grande sensação de falta de in-
formação sobre a extensão do problema, como se pode observar no rela-
tório citado sobre os impactos decorrentes do rompimento da barragem
e da chegada da lama (LEONARDO et al., 2017), no qual foram mapea-
das algumas das principais transformações vivenciadas nas localidades
de Regência e Povoação. Somando-se a isso, observou-se a profusão de
laudos e pesquisas de diversas áreas de conhecimento, realizadas sobre
as águas do rio e do mar, do pescado e da população dos locais afetados,
de forma concomitante com a indisponibilidade dos resultados de tais
pesquisas para a maioria da população. Quando disponíveis, tais dados
pouco dialogam com a população local, cujas questões relacionadas à
qualidade da sua água e do seu alimento permanecem sem resposta e
sem alternativas, o que gera o aumento da sensação de desinformação
e a diminuição da confiança sobre as informações obtidas. Além disso,
aumentam as incertezas quanto aos riscos aos quais se encontram sujei-
tos os moradores e outros seres, o que podemos depreender a partir da
observação em espaços mais amplos de discussão, como, por exemplo,
durante audiência pública realizada em 30 de novembro de 2016 sobre
a saúde do povo capixaba após o derramamento dos rejeitos, na Assem-
bléia Legislativa do Espírito Santo (ALES), quando falaram representan-
tes dos atingidos:
Essa cena perdurou por vários meses, enquanto isso a população
permanecia em total desconfiança da qualidade da água e ainda
permanece, a população de Colatina, ainda permanece, descon-
fiando da água. Você passa pelos restaurantes, você vai ver lá um
sinal que ali só se cozinha com água mineral. E a população não
deixa as suas crianças tomarem água da torneira nas escolas e
por aí vai.
[Representante do Fórum Capixaba em Defesa do rio Doce,
em fala durante audiência pública ocorrida na ALES em 30 de
novembro de 2016].
Pois vamos, o MPF, me desculpe o MPMG, se em vinte dias a
água foi dita como limpa pelo prefeito, em agosto ela foi dita
como suja, e só em agosto, pelo MPMG, falando que essa água
poderia causar doenças degenerativas. Não só, em novembro, a
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