Page 192 - LIVRO - ENCONTRO DE RIO E MAR_160x230mm
P. 192

Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização

               área proibitiva foi designada até os 20 metros de profundidade, em maio
               do mesmo ano.

               A  postura  institucional  quanto  às  indicações  de  proibição,  justificadas
               pelas incertezas técnicas sobre os níveis de contaminação, conforma-se
               como uma postura conservadora no sentido ambiental, que segue o Prin-
               cípio Ambiental de Precaução. Entretanto, alterações dessas áreas proibi-
               tivas foram observadas primeiramente em relação ao mar, porém, quanto
               às interdições da pesca no rio, pudemos identificar, também, na primeira
               ACP citada, a associação direta com a elevação da turbidez da água:

                       [...] proibição da pesca de espécies nativas no rio Doce e alguns de
                       seus tributários é necessária para fins de repovoamento dessas es-
                       pécies na Bacia Hidrográfica do Rio Doce. Em razão da elevação da
                       turbidez das águas do rio Doce causada pela lama de rejeitos oriundos da
                       barragem de Fundão ocorreu a mortandade de diversas espécies, alguns
                       tributários compartilham estas mesmas espécies, devendo ser
                       preservados em razão do importante papel na recomposição da
                       biota da bacia como um todo (MPF, 2016c, p. 194-195, grifo nosso).

               A relação da mortandade dos peixes com a turbidez e a incerteza sobre
               a contaminação da água foram reforçadas por uma profusão de notícias
               jornalísticas, observada nos primeiros momentos da descida dos rejei-
               tos pelo rio Doce.  Assim, esses marcadores de proibição indicados pe-
                                5
               las ACP’s passaram a ser interpretados de várias formas pelos atingidos
               da região da foz. Desse modo, em campo, ao questionarmos sobre as
               proibições, pudemos identificar respostas que indicavam a ausência de
               informações precisas sobre a proibição, uma vez que os conhecimentos
               sobre as decisões judiciais foram mediados por diversos veículos na sua
               chegada à comunidade, desde jornais, contato direto com representantes
               de órgãos públicos, representantes da empresa acusada de causar o dano
               ambiental, via associações comunitárias, etc. Assim, as incertezas sobre o
               desenho da proibição da pesca apareceram na comunidade na forma de


               5   A título de exemplos, ver reportagens: “Peixes são encontrados mortos no leito do Rio
               Doce, em Nanuque” (G1, Globo, 09/11/2015); “Peixes do rio Doce morreram por asfixia,
               não por contaminação” (Portal Brasil, 26/11/2015); “Rio Doce tem três toneladas de peixes
               mortos recolhidos no ES” (G1, Globo, 27/11/2015). Os respectivos links encontram-se nas
               referências.




                                               190
   187   188   189   190   191   192   193   194   195   196   197