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Perto  dela  jazia  o  cadáver  da  agente  de  segurança, que  caíra  da  cadeira. Tentando  salvar  a
          própria vida, a agente tinha feito exatamente o que Mal’akh mandara. Com uma faca pressionada contra
          o pescoço, ela havia atendido seu celular e contado a mentira que convencera Langdon e Katherine a
          irem correndo até lá. Ela não tinha colega nenhuma, e Peter Solomon com certeza não está bem. Assim
          que a mulher concluiu sua encenação, Mal’akh a esganou calmamente.
                 Para completar a ilusão de que não estava em casa, telefonara para o Arquiteto de dentro de um
          de  seus  carros,  usando  o  viva  voz.  Estou  na  estrada,  dissera  a  Bellamy  e  a  quem  mais  estivesse
          escutando.  Peter  está  amarrado  dentro  do  porta-malas.  Na  verdade,  Mal’akh  estava  dirigindo  pelo
          quintal  da  frente,  onde  havia  deixado  vários  de  seus  numerosos  carros  estacionados
          desordenadamente, com os faróis acesos e os motores ligados.
                 A farsa tinha funcionado à perfeição.
                 Quase.
                 O único porem era o monte ensanguentado vestido de preto no hall de entrada, com uma chave
          de fenda enfiada no pescoço. Mal’akh revistou o cadáver e teve que rir ao encontrar um rádio de última
          geração e um celular com a logo da CIA. Parece que até eles têm consciência do meu poder. Retirou as
          baterias e esmagou os dois aparelhos com um grande calço de bronze que segurava a porta.
                 Mal’akh sabia que precisava agir depressa, sobretudo se a CIA estava envolvida.
                     Tornou a andar até Langdon. O professor estava desacordado e ficaria assim por algum tempo.
          Os olhos do sequestrador então se moveram, ansiosos, para a pirâmide de pedra no chão ao lado da
          bolsa aberta. Ele ficou sem fôlego, e seu coração começou a bater disparado.
                 Esperei anos...
                 Mal’akh tremia um pouco ao estender a mão e recolher a Pirâmide Maçônica. Enquanto corria os
          dedos lentamente pelas inscrições, sentiu-se maravilhado com a promessa que continham. Antes que
          ficasse arrebatado demais, tornou a guardar a pirâmide e o cume na bolsa de Langdon, fechando o
          zíper.
                 Em breve eu a montarei... em um lugar bem mais seguro.
                 Jogou a bolsa por sobre o ombro e em seguida tentou erguer Langdon, porém o físico atlético do
          professor  era  mais  pesado  do  que  ele  imaginara.  Mal’akh  se  contentou  em  agarrá-lo  pelas  axilas  e
          arrastá-lo pelo chão. Ele não vai gostar do lugar para onde está indo, pensou.
                 Enquanto arrastava Langdon, a televisão da cozinha continuava aos berros. O vozerio da TV
          fizera parte da encenação, e Mal’akh ainda não a havia desligado. O canal agora exibia um programa
          evangélico,  no  qual  um  pastor  conduzia  sua  congregação  em  um  pai-nosso  coletivo.  Mal’akh  se
          perguntou se algum dos telespectadores hipnotizados fazia ideia da origem daquela oração.
                 “... Assim na Terra como no céu...”, entoou o grupo.
                 Sim, pensou Mal’akh. Assim em cima como embaixo.
                 “... E não nos deixeis cair em tentação.. .“
                 Ajudai-nos a dominar a fraqueza de nossa carne.
                 “... Livrai-nos do mal...”, imploraram todos.
                 Mal’akh  sorriu.  Essa  parte  talvez  seja  difícil.  A  escuridão  está  aumentando.  Ainda  assim,  ele
          tinha de respeitá-los por tentarem. Humanos que se dirigiam a forças invisíveis para pedir ajuda eram
          uma raça em extinção no mundo moderno.
                 O sequestrador estava arrastando Langdon pela sala de estar quando a congregação declarou:
          “Amém!”
                 Amon,  corrigiu  ele.  O  Egito  é  o  berço  da  religião  de  vocês.  O  deus  Amon  foi  o  protótipo  de
          Zeus...  de  Júpiter...  e  de  todas  as  faces  modernas  de  Deus.  Até  hoje,  todas  as  religiões  da  Terra
          exclamavam uma variação de seu nome. Amém! Amin! Aum!
                 O  pastor  evangélico  da  TV  começou  a  citar  versículos  da  Bíblia  descrevendo  hierarquias  de
          anjos,  demônios  e  espíritos  que governavam  o  céu  e  o  inferno “Protejam  suas  almas  das forças  do
          mal!”, alertou ele. “Ergam seus corações em prece! Deus e seus anjos irão ouvi-los!”
                 Ele tem razão. Mas os demônios também.
                     Mal’akh tinha aprendido que, com a aplicação adequada da Arte, o praticante poderia abrir um
          portal  para  o  reino  espiritual.  As  forças  invisíveis  existentes  ali,  como  acontecia  com  os  próprios
          homens, podiam assumir muitas formas, tanto boas quanto más. As forças da Luz curavam, protegiam
          e buscavam dar ordem ao Universo. As das Trevas funcionavam de forma oposta... trazendo destruição
          e caos.
                 Quando  corretamente  invocadas,  as  forças  invisíveis  podiam  ser  convencidas  a  cumprir  os
          desejos do praticante... imbuindo-o assim de um poder aparentemente sobrenatural. Em troca dessa
          ajuda, as forças exigiam oferendas: orações e louvor no caso das forças da Luz, e derramamento de
          sangue no caso das forças das Trevas.
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