Page 34 - 5
P. 34

FRAGMENTA HISTORICA                     Cristóvão Mendes de Carvalho  ‐ História de um alto
                                                            magistrado quinhentista e de sua família

             3º  morgado  do  senhorio  de  Águas  Belas,   de 1439, jurisconsulto, corregedor da corte
             fidalgo  do  Conselho  e  reposteiro-mor  de   para  a  comarca  de  Entre-Tejo-e-Odiana  e
             D. Afonso V; de Galiote Pereira, senhor de   além-Odiana nos reinados de D. João I e D.
             juro e herdade de Lever (24.1.1463), fidalgo   Duarte, etc. João Mendes já se documenta
             do  Conselho  e  camareiro  de  D.  Afonso  V,   como vassalo e corregedor da corte de D.
             alcaide-mor  de  Lisboa,  couteiro-mor  das   João  I  a  25.8.1403.  D.  João  I  encarregou
             perdizes do termo dessa cidade, alcaide-mor   João  Mendes,  corregedor  da  Corte,  de
             de  Castelo  Mendo,  senhor  dos  direitos  de   compilar  todas  as  leis  extravagantes,
             Montemor-o-Novo,  etc.;  de  Diogo  Pereira,   sendo  a  tarefa  ultimada  em  1446  por  seu
             governador  da  Casa  do  infante  D.  João  e   filho  homónimo,  também  corregedor  da
             comendador-mor  da  Ordem  de  Santiago     corte,  surgindo  as  Ordenações  Afonsinas,
             (1420-1427)  e  nesta  ordem  comendador    assim denominadas em homenagem ao
             de Castro Verde e alcaide-mor de Mértola    monarca  então  reinante,  Afonso  V.
                                                                                         164
             (1420), etc.; e de D. Henrique Pereira, fidalgo   Documenta-se que João Mendes foi senhor
             do  Conselho  (1454),  comendador-mor  da   da  herdade  coutada  de  Santa  Margarida,
             Ordem  de  Santiago  (pelo  menos  desde    em  Évora,  e  que  era  neto  de  Lourenço
             1453), escrivão da puridade, chanceler-mor   Mendes,  escudeiro,  e  sobrinho  de  Fernão
             e vedor das terras do infante D. Fernando,   Lourenço, escudeiro, sendo este pai de Lopo
             etc.,  que  teve  mercê  de  tratamento  de   Fernandes e Diogo Fernandes. Com efeito,
             Dom  para  si  e  seus  descendentes  (1454);   a 8.1.1435 D. Duarte confirmou o privilégio
             todos filhos de Álvaro Pereira, 2º morgado   de coutada a João Mendes “corregedor que
             do  senhorio  de  Águas  Belas  (Ferreira  do   ora he na estremadura” e a Lopo Fernandes,
             Zêzere),  que  esteve  na  tomada  de  Ceuta   filho  de  Fernão  Lourenço,  escudeiro,  que
             (1415)  e  foi  senhor  dos  direitos  reais  e   foi  morador  em  Évora,  constante  de  uma
             rendas das vilas de Sousel, Estremoz, Borba   carta que foi dada por D. João I a Lourenço
             e Vila Viçosa, em sua vida, por doação de   Mendes, “padre do dcto ferna l  tio do dcto
                                                                                 ço
             seu tio o condestável Nuno Álvares Pereira,   Johane  mendez”.  Acrescenta esta carta
                                                                       165
             e  de  sua  mulher  Isabel  da  Cunha,  filha   que  D.  João  I  ainda  confirmou  o  couto  ao
             Martim  Gonçalves  (do  Carvalhal) ,  tio   dito  Fernão  Lourenço,  numa  carta  onde
                                          162
             materno  do  antedito  condestável,  que  lhe   se dizia que, depois da morte de Lourenço
             doou as rendas e direitos reais de Tavira e
             Evoramonte.  Beatriz  Pereira  era  já  viúva,   de Pedro Esteves e Maria Anes, a quem D. João I em
             com  geração,  do  Doutor  João  Mendes   1396 aforou umas casas em Lisboa, e neta materna de
             (Aguada) , n. cerca de 1373 e fal. no início   João Anes, marceiro, e sua mulher Constança Garcês.
                    163
                                                      Portanto, o corregedor João Mendes não tinha qualquer
                                                      relação com Inês Pires, e muito menos era seu irmão.
           caseiros, enquanto for viúva (ANTT, Chancelaria de D.   Na  verdade,  documenta-se  que  João  Mendes,  senhor
           Afonso V, Liv. 19, fól. 4).                da herdade coutada de Santa Margarida, em Évora, era
           162  Tema desenvolvido em “Ensaio sobre a origem dos   filho de Afonso Martins e sua mulher Catarina Mendes,
           Carvalhal”, trabalho do autor ainda por editar.  sendo esta filha legitimada por carta real de 9.7.1389
           163  Alão (ob. cit., PEREIRAS, de Gege, §1) chama-o João   (ANTT,  Chancelaria  de  D.  João  I,  Liv.  2,  fól.  47  e  50  e
           Mendes  da  Guarda,  di-lo  corregedor  da  corte  de  D.   50v, havida em Catarina Afonso) de Lourenço Mendes,
           Duarte e casado com Isabel Pereira (na verdade Beatriz,   escudeiro,  senhor  da  dita  herdade  coutada  de  Santa
           como se documenta). E considera-o irmão de Inês Pires   Margarida.
           (a quem erradamente chama Inês Fernandes Esteves),   164   A  compilação  consistiu  em  reunir  as  normas  do
           a  amante  do  mestre  de  Avis  e  mãe  do  1º  duque  de   Fuero  Juzgo,  também  chamado  Código  visigótico  ou
           Bragança,  que  depois  foi  comendadeira  de  Santos   Lex  Romana  Visigothorum,  legislação  dos  hispano-
           (cargo  que  ainda  exercia  em  1425),  dando  ambos   romanos e visigodos, acrescido dos forais e leis gerais,
           como filhos de Fernando Esteves ou Mem da Guarda   estas aplicáveis em todo o reino. Em 1495 D. Manuel
           ou daGuada, sapateiro que viveu em Veiros. Também   I  resolveu  elaborar  uma  nova  compilação,  concluindo
           D. António Caetano de Sousa aceita este João Mendes   o  trabalho  em  1521,  dando-se  a  este  o  título  de
           “daGuada” como irmão de Inês Pires (a qual é certo   Ordenações Manuelinas.
           que teve um irmão Gil Pires, que se diz tio do “senhor   165  ANTT, Chancelaria de D. Duarte I, Liv. 1, fól. 119v e
           conde”).  Mas  documenta-se  que  Inês  Pires  era  filha   120.


           34
   29   30   31   32   33   34   35   36   37   38   39