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Manuel Abranches de Soveral FRAGMENTA HISTORICA
século XVIII em Lisboa, na Calçada da por três fases distintas: do engrandecimento
Graça: escudo partido de Lemos (a família ou crescimento, do esbanjamento ou
da Casa) e Carvalho (a varonia, se bem endividamento e da decadência. A isto
que esta na verdade fosse Vasconcellos). acresce que o meio ou a envolvente se altera
Foto do autor. substancialmente ao longo dos séculos,
mudando mais ou sendo mais exigente o da
A Jerónimo de Carvalho de Vasconcellos e sua corte. Pelo que, muitas vezes, a segunda fase,
mulher D. Jerónima de Lemos sucedeu o filho, que antecipa a decadência, resulta de uma
Bernardo de Carvalho de Lemos (1645-1704), exigência exógena inerente à manutenção do
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que foi o 8º senhor da Trofa (7.5.1699) , com estatuto.
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geração nesta Casa. No caso presente, tratando-se apenas do
Segue-se a resenha genealógica da família de estudo de um segmento temporal da família,
Cristóvão Mendes de Carvalho, que começa entre o séc. XV e o XVII, não vislumbro
com seu avô paterno, Lourenço Mendes (de nenhuma especial estratégia familiar, para
Vasconcellos), e termina com os filhos de seu além daqueles tropismos transversais a todas
neto sucessor, o antedito Jerónimo de Carvalho as linhagens, como o de fazer as melhores
de Vasconcellos. alianças matrimoniais possíveis, isto é, casar
com herdeiras abastadas de boas origens.
O estudo é desenvolvido de forma integral,
dita tradicional, por considerar que é a única Na diversidade das linhas descendentes do
que verdadeiramente permite abarcar toda a avô paterno do Dr. Cristóvão Mendes de
realidade, e não apenas aquela que interessa Carvalho, sobretudo naquelas linhas que dele
a esta ou aquela tese, e monografar com rigor descendem por varonia e portanto configuram
cada indivíduo. Por outro lado, uma explanação a sua verdadeira família no sentido agnático
completa como esta, que incluiu toda a família da palavra, o que de mais relevante se pode
no período em análise, constituiu-se ela assinalar é a manutenção do estatuto original
própria, no seu todo, como uma fonte ou, de serviço ao rei, na administração central ou
noutras palavras, serve para aumentar a base local ou no serviço militar, a preferência pela
do processo heurístico. Não só no que respeita vida na província e, concomitantemente, a
à integração familiar da pessoa em estudo, pouca ou nenhuma apetência por ligações
mas sobretudo como estruturado padrão a famílias da corte e um consistente e
genealógico para esta cronologia, geografia e aparentemente deliberado afastamento da
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estatuto. vida cortesã.
É hoje comum, sempre que se tratam famílias
neste contexto, procurar estratégias familiares
ou comportamentos sociais organizados ao
longo das gerações subordinados a objectivos
de engrandecimento e enriquecimento. Em
geral, esses comportamentos não passam 147 Sobre este fenómeno, vide Manuel Abranches de
de tropismos naturais. Quem, como eu, já Soveral, “História genealógica dos Correa Manoel de
investigou o percurso genealógico de dezenas Aboim. Administradores da capela de S. Lourenço de
de famílias nobres ou linhagens , pode Óbidos (1319), senhores do palácio dos Aboim (Lisboa),
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viscondes de Idanha e Vila Boim", 2014 Caminhos
concluir que, basicamente, todas elas passam Romanos.
148 Mesmo os últimos senhores da Trofa, descendentes
145 ANTT, Chancelaria de D. Pedro II, Liv. 4, fól. 40v; e Liv. por varonia do Dr. Cristóvão Mendes de Carvalho, não
53, fól. 147 e 147v; e RGM, D. Pedro II, Liv. 12, fól. 325. se incluíam nas chamadas famílias da corte. Vide Nuno
Vide ANEXOS. Gonçalo Freitas Monteiro, “O crepúsculo dos Grandes. A
146 Parte desses estudos já publicados. Vide casa e o património da aristocracia em Portugal (1750-
in https://independent.academia.edu/ 1832)”, 1998 INCM; e Manuel Abranches de Soveral, “A
ManuelAbranchesdeSoveral. “Casa da Trofa”, 1999, in www.soveral.info/casadatrofa.
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