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NARRATIVAS DE UMA EXPERIÊNCIA FORMADORA: ENTRE O
SABER E O FAZER
NO PIBID
Dailma B. Fagundes, Josemar N. dos Santos, Wagner da S. Teixeira
lotadas, “agora” estavam quase vazias, mas mantivemos o enquanto sujeitos inacabados que somos e,
curso para os que permaneceram. Tivemos que juntar as consequentemente, fomos apresentados ao início do
turmas, pois em cada uma ficaram cerca de cinco ou seis saber-fazer da profissão docente. A respeito dos caminhos
alunos, de modo que encerramos o módulo com apenas do processo de formação, Josso (2010) relata:
treze discentes, os quais receberam certificado de
...a formação descreve os processos que
conclusão do curso. afetam nossas identidades e nossas
subjetividades. Ela indica, assim, um dos
caminhos para que o sujeito oriente, com
2.3 AS PRIMEIRAS TENSÕES NA PRÁTICA DA
lucidez, as próprias aprendizagens e seu
INICIAÇÃO À DOCÊNCIA
p r o c e s s o d e f o r m a ç ã o . S e a
aprendizagem experiencial é um meio
poderoso de elaboração e de integração
Experienciar a evasão daqueles alunos nos levou a do saber-fazer e dos conhecimentos, o
seu domínio pode torna-se um suporte
questionar sobre alguns problemas da educação no Brasil eficaz de transformação. (p.38.).
e sobre o papel do professor num momento como este.
No decorrer deste processo de formação, com as
Nós sabíamos que isso podia acontecer, mas constatar tal
experiências de nossa atuação, percebemos também a
realidade mexeu com nossas estruturas no processo de
dificuldade que a maioria dos discentes tinha em
constituição docente. Sentimos a necessidade de repensar
manusear o computador. Esta maioria sabia ligar o
nossa prática, porém, mais uma vez percebemos que este
computador e abrir um navegador para acessar as redes
“repensar” precisava dialogar com as reais necessidades e
sociais. Poucos sabiam usar os aplicativos de edição de
CURIOSIDADE
expectativas do público alvo em questão. Eram
textos e criação de slides, por exemplo, não conheciam
adolescentes, estudantes de escola pública que
todos os componentes básicos do computador pelos
precisavam e mereciam receber uma “qualificação”
nomes e mal sabiam da função de cada um. Por conta
diferenciada da que o mundo de informática da região
desta demanda foi preciso trabalhar com eles um pouco de
ofertava. Aos nossos olhos, de professores de computação
informática, haja vista que o conteúdo “Hardware”, que
em formação, não podíamos oferecer apenas um mero
compunha o módulo, contemplava esta explanação.
curso de informática.
Mesmo avançando com o conteúdo, achamos necessária
Nossa intenção era trabalhar conceitos de
essa atenção com tais deficiências durante todo o período
computação, aplicações práticas destes conceitos e situar
do curso.
nossos alunos a respeito da importância de tais conteúdos
Nos demos conta também que, para termos
no contexto da presença da computação em praticamente
sucesso em tal empreitada, precisávamos contextualizar
tudo em nossos dias. Uma vez que conseguíssemos tais
todo e qualquer ensinamento/conteúdo trabalhado, de
intentos teríamos a atenção e comprometimento deles no
modo que nossos discentes vissem sentido no que estava
decorrer do curso. E foi assim que fizemos, em cada aula
sendo ensinado. Acreditávamos que citar exemplos
ministrada procurávamos chamar a atenção dos discentes
práticos, associar os conteúdos a situações do cotidiano,
para tais pontos.
por exemplo, poderia ajudar na assimilação do que estava
Nosso “eu professor' se constituía à medida que
sendo trabalhando com eles. Mas havia momentos em que
ensinávamos, interagíamos, perguntávamos e
nem sempre tínhamos sucesso. Às vezes víamos, durante
aprendíamos com eles. E nesse contexto de cumprir com
as aulas, umas carinhas de insatisfação, indiferença ou
responsabilidades, resolver problemas que surgem e
“pouco caso” que nos deixavam gélidos, sem ação. “O
repensar nossa prática cotidiana que nos fazemos
que estamos fazendo de errado?”, “O problema está
professores,nos (re)formamos, nos compreendemos
mesmo em nós?”, “O que fazer para mudar a situação?”.