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P A VERDADEIRA CULPA VERSUS A FALSA CULPA
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"Ele conscientizará o mundo do pecado..."
João 16:8
Muitas pessoas acham que o consultório de um psicoterapeuta é o lugar aonde
podem ir para atenuar sua culpa. Elas acreditam que a culpa é neurótica e que os
terapeutas são especialmente treinados para ajudá-las a livrar-se dela.
Chip vinha para as sessões com o mesmo entusiasmo e carisma que dedicava a
todas as áreas da sua vida. Era eloqüente, motivado e bem-sucedido em tudo o que
fazia. Embora Chip me garantisse que amava a mulher, ele me confessou que tivera
um caso extraconjugal. A mulher ficou furiosa quando descobriu e insistiu para que
ele fosse fazer terapia para tentar se compreender. Chip estava genuinamente
perturbado com a possibilidade do seu casamento fracassar. Ele detestava o
fracasso.
Embora Chip tivesse deixado bem claro tanto para mim quanto para a mulher que
estava se sentindo muito mal com o que fizera e que desejava que o seu casamento
desse certo, tive dificuldade em ajudá-lo. Eu não compreendia bem a razão de seu
mal-estar. Finalmente descobri que Chip de fato estava se sentindo culpado não
com relação ao que havia feito, mas por ter sido apanhado. O tipo de culpa que Chip
sentia não se baseava no remorso que experimentamos quando magoamos alguém
que amamos, mas no medo das conseqüências por ter cometido um erro e
estragado as coisas. Na verdade, o que Chip estava sentindo era uma falsa culpa.
É difícil tratar a falsa culpa na psicoterapia, porque as coisas não são como parecem
ser. Chip não conseguia admitir para si mesmo o verdadeiro motivo da sua culpa. Se
conseguisse, ele admitiria que não acreditava que os homens fossem capazes de
ser monogâmicos e que "pular a cerca" de vez em quando era admissível. Mas não
podia aceitar essas idéias porque sabia o que a mulher pensaria a respeito delas e
tinha medo das conseqüências.
Chip deixou a terapia alguns meses depois, sentindo-se muito melhor. Informou a
mim e à mulher que aprendera muitas coisas a respeito de si mesmo. Mas no fundo
Chip nunca concordou comigo sobre a razão dos seus sentimentos de culpa. Ele
costumava me dizer: "Não é ficar sentindo-se mal a respeito do passado. É
aproveitar ao máximo o que se tem hoje. Minha mulher simplesmente vai ter que
superar o problema e voltar a confiar em mim.”
Parece que Chip conseguiu evitar o divórcio, mas duvido que a mulher dele tenha
voltado a sentir-se segura no casamento. Embora as coisas tenham parecido
melhorar, tanto Chip quanto a mulher continuaram a viver com a sensação de que
algo não estava bem resolvido.
Embora Jesus tenha dito que não veio ao mundo para condenar (Jo 3:17), ele
acreditava que há momentos em que devemos nos sentir culpados. A partir da
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perspectiva dele, nem toda culpa é má. Jesus acreditava em dois tipos de culpa. O
que os psicólogos chamam de verdadeira culpa, ele chamava de culpa baseada no
amor. O que chamamos de falsa culpa, segundo ele, era a culpa fundamentada no
medo. A verdadeira culpa é o remorso que sentimos quando magoamos aqueles que
amamos; ela nos faz ter vontade de corrigir as coisas no nosso relacionamento com
os outros. A falsa culpa é o medo da punição que está mais ligada à necessidade de
nos protegermos depois que fazemos algo errado.