Page 109 - O vilarejo das flores
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estava à mesa saboreando o desjejum.
Aimeé tinha acordado cedo e preparado suas coisas para a
viagem. Ficou em dúvida sobre o que preparar para o bebê e resolveu
ir perguntar a sua mãe. Quando descia as escadas, Aimeé ouviu sua
mãe e sua tia Noeli conversando baixinho e parou em um degrau de
modo que elas não a vissem.
—Tem certeza que esse médico é de confiança, tia? - perguntou
Brígida aflita.
—Sim querida. Ele faz isso há muito tempo.
—Não sei. Estou com um mau pressentimento.
—Querida, soube de muitas jovens que fizeram essa intervenção
cirúrgica e que casaram como donzelas. Ninguém desconfiou. Não
há outra maneira.
“Intervenção cirúrgica”? Perguntou-se Aimeé.
—Eu sei. Mas sinto que devemos esperar um pouco. Talvez mais um
mês. Talvez ocorra um aborto espontâneo.
—E se não ocorrer? Nosso tempo terá passado e não teremos outra
oportunidade. Ele disse que é até o terceiro mês e que será rápido.
Ele dará um chá para ela dormir algumas horas. Será feita a incisão
para a retirada do bebê. Quando ela acordar tudo já terá passado.
Poderemos dizer que ela desmaiou e que o médico precisou fazer a
cirurgia às pressas. Podemos dizer que o bebê morreu no ventre. Ela
vai ficar triste por alguns dias, mas depois verá que foi melhor assim.
Depois poderemos apresentá-la a sociedade. O filho dos Waltmiller!
É um excelente rapaz, filho único também...
Aimeé ouvia tudo e mal conseguia respirar, sentiu vertigem
e levou as mãos trêmulas no rosto. Sentia um buraco no estômago.
Suprimiu o choro para não ser ouvida. Procurou forças para se
levantar e com todo cuidado subiu as escadas e voltou ao quarto. Ao
fechar a porta caiu de joelhos no chão. Chorava desesperadamente.
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