Page 115 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
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Ao  rememorar  meus  primeiros  anos de  vida,  marcados  pelas  experiências no
               meio  rural,  na  tentativa  de  encontrar  questões  ou  substratos  da  minha  vivência  que

               possam  fazer  sentido  na  constituição  do  eu,  ou  do  que  me  tornei,  senti  a  primeira
               dificuldade inicial dessa autobiografia. Questionamentos como: o que de fato é relevante

               biografar? Será mesmo que nossa história de vida é significativa? O que há de relevante
               para contar? Que episódios e circunstâncias a serem narradas podem se tornar fontes

               críveis  de  produção  de  conhecimento?  Como  fica  o  papel  da  memória,  visto  que
               esquecemos grande parte das coisas que nos acontecem? Nessa questão de memórias,

               quais são as lembranças mais significativas? E a dimensão emocional disso tudo! Lembrar
               pode ser doído, por isso alguns esquecimentos são importantes igualmente!

                      Dentre  essas  questões,  utilizei  como  critério,  além  é  claro  dessa  questão  da
               significância,  pois  só  lembramos  o  que  tem  sentido  e  significado  para  nós,  procurei

               pautar  as  lembranças  em  fatos  que  tivessem  significância,  claro  para  minha  história
               pessoal,  e  nesse  caso  específico  fatos  escolares,  ou  que  pudessem  justificar  minhas

               escolhas atuais e foco de pesquisa, inclusive, de geração de um conteúdo biográfico com
               potencialidade de debates educativos e de formação docente e de contexto escolar.

               Recorri as palavras de Guimarães Rosa (1956) de “a vida é texto, é história que se narra”
               e de Barthes (2006) de que "escrever é sacudir o sentido do mundo” e assim meu texto

               biográfico foi ganhando forma e também uma nova experiência ao possibilitar esse tipo
               de escrita.

                      Recorrendo às explanações de Souza (2007, p. 63) ao afirmar que ao trabalhar
               com a memória, seja a memória institucional ou a do sujeito, faz emergir a necessidade

               de  se  construir  um  olhar  retrospectivo  e  prospectivo  no  tempo  e  sobre  o  tempo
               reconstituído  como  possibilidade  de  investigação  e  de  formação  de  professores.  A

               memória  é  escrita  num  tempo,  um  tempo  que  permite  deslocamento  sobre  as
               experiências.  Tempo  e  memória que possibilitam  conexões  com  as  lembranças  e  os

               esquecimentos de si, dos lugares, das pessoas, da família, da escola e das dimensões
               existenciais do sujeito narrador.

                      Nesse rememorar, foi que percebi que eu já havia esquecido muito de quem eu
               era ou quase esqueci quem eu já fui. A sensação é que são muitas vidas dentro de uma

               vida  só.  Nesse  esforço  em  lembrar detalhes que  pudessem  ser  relevantes,  optei  em
               começar pelo início:




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