Page 120 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
P. 120
trabalhar em uma casa de família, aonde consegui emprego de doméstica/babá e com
isso pude concluir o Ensino Médio, posteriormente pagar um cursinho pré-vestibular e
assim, ainda dentro das limitações do que poderia escolher como profissão, fui fazer
Pedagogia. Costumo dizer que não escolhi a profissão, ela me escolheu pois era a única
dentro das possibilidades de passar no vestibular público e gratuito, numa Universidade
pública. Poderia escolher outro curso? Talvez, mas na época, não me parecia ter muitas
escolhas.
Deixar a casa dos pais, vir morar na cidade grande, trabalhar desde muito nova,
carregar as marcas de que mulher poderia “se perder na vida”, são lembranças desse se
tornar adulto muito rapidamente. Não tenho lembrança de festas, agitos dos jovens, a
sensação que tenho é que não tive adolescência. Precisava trabalhar para ajudar a
família, descobri que somente trabalhando e estudando muito poderia modificar aquela
realidade.
No Ensino Médio, sofri muitos preconceitos por ter vindo do contexto rural. A
impressão que dava era que a Cultura era pouca, falava muito errado, e não pertencia
àquele mundo... As primeiras notas do Ensino Médio foram desastrosas. Acostumada a
tirar 9,0 e 10,0 amarguei uma nota 3,0 na primeira prova da Disciplina de Física. Desde
então soube que não se aprende por osmose, precisa se debruçar nos livros,
compreender, estudar. Também aprendi ali a diferença entre estudar e aprender!!! Pedi
à professora para refazer a prova e ela ficou surpresa com a nova nota. Assim fui
ganhando a confiança dos professores que se tornaram grandes amigos. Alguns inclusive
mais tarde tornaram-se colegas de profissão, nos reencontrando e trabalhando no
mesmo Sistema Estadual de Ensino.
Sempre carreguei comigo essa vontade de estudar, conhecer o desconhecido,
apreciar novas músicas, arte, literatura, era um mundo pouco acessível, mas que me
fascinava. Sempre andava com algum livro em mãos. Em Curitiba descobri logo que o
2
“Farol do Saber ” tem o poder de iluminar nossa mente e ampliar horizontes pela leitura
e pelo conhecimento. Sabia que pelo estudo poderia sonhar algo a mais e modificar meu
destino.
Das dificuldades de passar no vestibular, queria fazer psicologia, não passei na
primeira tentativa, então até por estratégia tentei vestibular para pedagogia e passei. O
2 Bibliotecas públicas instaladas em vários bairros da Capital Curitiba, na gestão do prefeito Rafael
Greca (1993-1996).
118
PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES