Page 16 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
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da  sala  frequentemente  não  havia  mudado  e  não  recordo  do  que  foi  ensinado  na
               disciplina. Da sétima série não lembro quem era o professor de ciências e da 8ª era um
               professor que seguia à risca o livro didático. As aulas eram assim: para cada capítulo ele
               solicitava umas 40 questões e no dia seguinte cada aluno lia uma questão. Quem lesse
               uma semelhante ao do colega ficava em pé até o final da aula. Era muito sofrido fazer as
               questões, chegava um ponto que não tinha mais nada para tirar do texto, então muitas
               questões ficavam ruins e eu trocava o enunciado pela resposta e depois a resposta era
               enunciado.
                      Gostava das aulas de Língua Portuguesa da 7ª série, embora a professora fosse
               bastante  exigente.  Acredito  que  foi  o ano em  que  mais  aprendi  regras  gramaticais  e
               aprofundei na literatura. Tínhamos um caderno de ficha de leitura e eu devorava livros.
               Mesmo trabalhando a tarde toda ainda conseguia ler muito. Nesse período acredito que
               li quase todos os livros da Série Vagalume. Foi na sétima série que entendi o que eram
               as oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, até então não tinha aprendido. Lembro que
               desde a quarta série estudava isso, mas nunca tinha entendido.
                      Das  aulas  de  Educação  Física  não  tenho  boas  recordações.  Sempre  fui  muito
               tímida e ruim nos esportes. Os diferentes professores que tive não colaboraram para que
               isso mudasse. A prática era sempre dar uma bola de vôlei e uma de futebol. As meninas
               iam para a quadra e os meninos para o campo. No fim do bimestre eu sempre tinha que
               entregar trabalho escrito e minha nota sempre era a média. Mas pior que isso era ter que
               fazer uma prova de vôlei que um dos professores fazia, nunca havia ensinado nada sobre
               o jogo e num certo dia dizia: hoje é prova, entrem na quadra. É óbvio que eu ia super mal,
               pois nem sabia as posições e rodízios, quem dirá dar um saque.
                      E assim concluí o Ensino Fundamental, vindo da roça para a cidade e sempre
               trabalhando. Não sobrava tempo para fazer trabalhos em grupo com outros colegas ou
               para passeios e outros encontros que eles faziam. E assim o círculo de amizades foi se
               desfazendo.  Como  estudava  com  minha  irmã  mais  nova,  era  com  ela  que  fazia  os
               trabalhos e com quem contava sempre. Minhas outras irmãs já haviam abandonado a
               escola nesse tempo. As mais velhas e meu irmão já não estudavam dede a quarta série,
               uma das outras desistiu na 6ª série e a outra finalizou o Ensino Fundamental e iniciou o
               EM regular, mas como tinha que trabalhar o dia todo de doméstica e indo morar em
               Curitiba para isso, não terminou no ensino regular. Retornou à EJA alguns anos depois e
               terminou o EM e hoje cursa Pedagogia.
                      Para poder trabalhar o dia todo, no EM eu e minha irmã passamos a estudar à
               noite. Durante os três anos tivemos uma turma muito boa. Acredito que a história de vida
               de cada um daquela turma era semelhante e por isso não havia tiração de sarro, como
               chamávamos na época. Era bom ir para a aula. Havia muita rotatividade de professores,
               em  um  ano  chegamos  a  ter  4  professoras  diferentes  de  Língua  Portuguesa  e  era
               semelhante com as outras disciplinas. Alguns professores sequer eram formados em
               cursos  de  licenciatura.  Tivemos,  por  exemplo,  aulas  de  História  com  um  Engenheiro
               Mecânico e de Matemática com uma Engenheira de Alimentos. Não era fácil conciliar o
               dia todo de trabalho e o cansaço para estudar à noite. A aprendizagem certamente foi
               prejudicada. Por isso o sonho de fazer uma faculdade foi sendo esquecido. Lembro que
               no último ano já não tinha mais esse sonho e não fiz inscrição para nenhum vestibular. A
               pedagoga da escola é que foi atrás e fez minha inscrição e de minha irmã. Quando ela
               perguntou que curso eu queria, eu nem sabia dizer. Apenas disse que não tinha chances
               de passar em uma universidade pública e que não teria condições de pagar condução se
               passasse. Mesmo assim, ela e o secretário da escola fizeram minha inscrição com isenção
               de taxa para o curso de psicologia da UFPR. Mas eu não fui fazer a prova.

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                       PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
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