Page 20 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
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da data limite. No dia 26 de agosto de 2016 defendi minha dissertação. Fui para o campo
da Educação Estatística por influência do meu orientador e agradeço imensamente por
isso. Acabei me encantando por esse campo e o sigo até hoje. Com tudo isso, meu
orientador convidou-me para o doutorado. É claro que eu deveria fazer todo processo
de seleção. Fiz o processo em outubro de 2016 e ingressei no Doutorado em março de
2017.
No Doutorado veio a síndrome do impostor e cheguei a pensar que era presunção
sonhar tão alto e pensar que eu poderia ser doutora. Os colegas esbravejam seus
conhecimentos sobre a física, a química e muito mais. A maioria vinha de uma Educação
Básica na escola privada e do Ensino Superior em Universidade Pública. Numa das
disciplinas eu era a única Pedagoga e já no primeiro dia tive que ouvir que “As pedagogas
não sabem nada!”. Essa frase foi dita por uma pessoa formada em curso de tecnologia,
professora do Instituto Federal. Aliás a maioria dos colegas já era professor de
universidades públicas. Sentia-me como um peixe fora d' água. Como se aquilo não
fosse para mim.
Passei por muitas provações na vida pessoal, na profissional e acadêmica. Fui
chamada para cuidar do meu pai que estava hospitalizado com câncer em estágio
terminal. Foi um momento muito angustiante. Não o via há alguns anos e a decisão de
ajudar no seu cuidado era doloroso para mim, pois ainda tínhamos muitas mágoas e
ressentimentos. Acabei ajudando e ficava com ele alguns dias no hospital. Embora ainda
ressentida, não foi fácil vê-lo naquela situação. Foi tudo muito triste. Após mais de
quarenta dias internado, ele faleceu, em janeiro de 2018. No velório parecia que as
pessoas falavam sobre um homem que eu não conhecia. Também murmuravam pelos
cantos coisas sobre termos o abandonado, quando a verdade era contrária. Essa situação
me desestabilizou bastante e eu não conseguia escrever ou pensar direito na pesquisa.
No segundo semestre do Doutorado recebi a oferta de uma bolsa de Demanda
Social, da Capes. Com essa bolsa não se pode exercer função remunerada em setor
público ou privado. Então pedi demissão da faculdade na qual trabalhava há 7 anos. Para
assumir a bolsa precisaria cumprir uma carga horária de 32 horas no prédio do Programa.
Cada orientador tinha uma sala em um prédio do campus. Era um dos prédios mais
antigos do campus, as salas eram bastante frias, mas foram anos muito bons. Fazia
academia, aula de inglês e participava de tudo o que era ofertado pelo Programa, afinal
bolsista tinha que estar em tudo. Fui bolsista por dois anos, quando a situação das bolsas
ficou instável e decidi voltar para o mercado de trabalho. Enviei muitos currículos, fiz
teste seletivo de uma universidade privada e entrei em contato com a coordenação do
meu antigo trabalho. E assim consegui voltar para a faculdade na qual trabalhava, com
uma carga horária de 22 horas. Foi um retorno muito positivo. Fui bem recebida. Recebi
tarefas que já desempenhava antes e recebi outros desafios na produção de materiais
para os cursos de pós-graduação e roteiros de aulas.
Tive três mudanças significativas no percurso da pesquisa e uma qualificação bem
difícil. Costumo dizer que fiz três teses. Desanimei muito no decorrer do tempo. Era difícil
ter forças para escrever. Nessa época eu e meu marido já estávamos planejando ter
filhos. E decidimos que o fato de ter que reorganizar toda tese depois da qualificação não
deveria nos impedir. E seguimos com nosso plano. Contei muito com as amizades que
tinha desde o mestrado para poder superar todas as provações do Doutorado. Tenho
boas memórias dos cafés, das conversas e desabafos. Era bolsista junto a mais três
amigas que conheci no Mestrado.
Nessa época também eu e meu marido decidimos ir para perto da família. E na
oportunidade de um concurso para a cidade natal dele, nos mudamos. O concurso foi
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PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES