Page 21 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
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adiado por causa da Pandemia da Covid-19 e somente foi realizado no final do ano. Passei
               em primeiro lugar para o cargo de Educadora Infantil. Era a única oportunidade para a
               minha área. Em maio de 2021 assumi a vaga e passei a trabalhar 62 horas semanais.
               Quando assumi estava grávida de 6 meses. Trabalhei remotamente, como professora de
               Arte e recreação. Fui muito bem recebida no CMEI onde ia trabalhar. Uma recepção
               diferente do início da profissão. Uma direção amigável e organizada. As colegas muito
               solícitas e gentis.
                      O trabalho no município é guiado por apostilas e tive que adaptar-me a isso. Não
               concordo muito com esse tipo de organização, pois acredito que rouba a autonomia do
               professor e foge do contexto das crianças. Procurei planejar além do que estava posto
               no material e sempre tentei inserir questões contextuais nas explicações e nas atividades.
               Um desafio muito grande, pois além de ser uma cidade nova para mim, ainda precisei
               lidar com um modelo de ensino remoto. Precisei aprender a fazer isso.
                      Nesse  tempo eu  corria  com  a pesquisa.  Ficava  até  tarde e  passava  os  fins  de
               semana fazendo as análises, pois queria finalizar antes da Verônica nascer. E pelo meu
               planejamento  daria  tudo  certo,  estava  conseguindo  cumprir  minhas  metas.  Porém,
               minha filha resolveu se adiantar e nasceu 3 semanas antes da data prevista. Foi uma
               correria e eu passei a aceitar que não tinha mais controle de nada. No retorno para casa,
               já nos primeiros dias de vida da Verônica voltei para a tese e enfim consegui terminá-la.
               Foi um período bastante cansativo. Intercalava a escrita com as mamadas e os demais
               cuidados com ela. Nunca imaginei que teria força física e mental para terminar.
                      Defendi minha tese no dia 14 de dezembro de 2021. Tinha muito receio da defesa
               e  fiquei  bastante  nervosa,  mas  para  minha  surpresa  foi  uma  defesa  tranquila  e  com
               poucas correções. Verônica tinha 4 meses e 10 dias. Não fui muito felicitada pela minha
               conquista. Apenas minhas amigas mais próximas, meu marido, minha sogra e duas das
               minhas irmãs me felicitaram. Minhas irmãs mais velhas sequer sabem o que significa um
               Doutorado.  Não  as  culpo  por  isso,  como  já  disse,  elas  sequer  finalizaram  o  Ensino
               Fundamental.
                      No  momento  que  escrevo  este  relato  da  vida  estou  voltando  ao  trabalho  na
               faculdade, que agora já é Centro Universitário. Voltar a trabalhar com a formação de
               professores é muito bom. É um trabalho que gosto muito. Acredito que é dessa forma
               que eu posso contribuir para a educação do país. Eu acredito que a Educação a Distância
               pode  ser  de  qualidade,  mas  para  isso  o  esforço  de  alunos  e  professores  deve  ser
               conjunto.  Cada  um  deve  desempenhar  bem  seu  papel:  o  aluno  colocando-se  como
               estudante e buscando pela aprendizagem e o professor auxiliando nesse processo.
                      Depois de escrever um pouco sobre minha trajetória de vida e formação percebo
               que não escolhi a profissão docente, mas fui escolhida por ela. Os caminhos desde que
               era estudante da Educação Básica levaram-me à profissão. Além disso, no meu contexto
               de vida não havia muita oportunidade para cursar outros cursos e me aventurar em outra
               profissão.  E  essa  é  a  realidade  de  muitas  pessoas.  Percebi  isso  quando  estava  na
               graduação e depois quando fui trabalhar nos cursos de Pedagogia, Geografia e no estágio
               de docência que  fiz  durante  o  Doutorado. Os  relatos  de  alguns  alunos  quando  você
               pergunta por que escolheram o curso, muitas vezes está no sentido de que não foi por
               vontade  própria,  mas que  era  a  única  opção  viável. Penso  que  isso  fere  a  profissão.
               Lembro de quando estava na graduação e uma professora falava que um dos grandes
               problemas era que ser professor acabava virando “bico”, como se ser professor não
               exigisse  conhecimentos  específicos  e  formação  adequada  para  isso.  Quero  muito
               acreditar na profissão, mas a realidade atual é bastante contraditória e desafiante.



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                       PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
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