Page 19 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
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O trabalho no CMEI foi de muito aprendizado, mas o início e mesmo o final não
foram muito fáceis. Tinha uma diretora difícil e algumas colegas que não contribuíam
para que o trabalho fosse facilitado. Senti toda a angústia do início de carreira, as falhas
da formação inicial, a sensação de incompetência e a vontade de abandonar tudo. No
início trabalhei como corregente, professora que assume diferentes turmas para que as
demais façam suas horas-atividade. Eu não tinha noção nenhuma da rotina daquelas
crianças e ninguém me explicou. Não sabia sequer os horários de café, almoço e lanche
e frequentemente ficava com duas turmas juntas ou para horário de café das outras
professoras ou porque outras tinham faltado. Na maioria dos dias 4 professoras faltavam.
Como eu era corregente ficava responsável por duas turmas e a outra professora
corregente por outras duas. Não era nada fácil. As turmas eram numerosas, com 25 a 28
crianças do Infantil IV. Quase não conseguia fazer hora-atividade, pois a prioridade era
para as professoras regentes. No primeiro ano que trabalhei, na última semana pude
fazer as horas atrasadas, mas isso não servia de nada, já que não precisava mais fazer
planejamento. Então eu e minha colega ficamos arrumando o estoque de materiais e
ajudando nas salas do infantil I e II no momento das trocas.
No meu segundo ano a pedagoga disse que eu tinha apresentado um bom
trabalho com as crianças pequenas, então resolveu confiar a mim uma das turmas do
Infantil II, uma turma com 19 crianças. Fiquei muito feliz e a sensação de incompetência
foi passando ao longo do ano. Durante as férias preparei toda a decoração da sala, com
o tema Circo. Nessa época minha irmã já era concursada em Araucária, também na
Educação Infantil e fizemos juntas todo nosso material. Foi um ano muito proveitoso e
eu pude enfim fazer as coisas do meu jeito e mostrar meu trabalho. Segui a rotina com
as crianças e consegui realizar muitas atividades e perceber o desenvolvimento delas.
Éramos em duas professoras, mas eu era a regente e responsável pelo planejamento e
execução da parte pedagógica. É claro que revezávamos. Os dias eram bastante
cansativos, pois não é fácil ser responsável por 19 crianças em uma fase tão importante
da vida delas. E quando chegava em casa à noite ainda tinha o trabalho home office da
faculdade.
Em agosto de 2014 resolvi pedir exoneração para me dedicar ao processo seletivo
do Mestrado em Ensino de Ciência e Tecnologia na UTFPR de Ponta Grossa. Amarguei
algumas frustrações da direção durante o cumprimento do aviso prévio, mas enfim em
setembro consegui fechar o ciclo. Nos primeiros meses eu visitava a turma pelo menos
uma vez por semana. Sentia saudades das crianças e quando chegava na sala elas eram
super carinhosas.
O edital para o Mestrado já estava aberto e o último dia de inscrição e envio do
projeto de pesquisa era no dia 10 de outubro. Corri com tudo e meu marido me ajudou
com algumas ideias. Resolvi pesquisar na área do ensino de Matemática, com a proposta
de desenvolver um jogo para as tarefas de casa. Uma proposta bem diferente do que
acabei fazendo depois. Passei na primeira etapa que era a da avaliação do projeto, então
fui para a defesa do projeto e entrevista. Estava muito nervosa no dia, mas consegui
responder a todas as perguntas. Meu marido faltou no serviço para me acompanhar.
Sempre muito companheiro e incentivador, como tem sido até hoje. Quando saiu o
resultado fiquei muito eufórica. Nem acreditava que aquilo era verdade. Enfim, um sonho
se concretizava.
Durante o Mestrado senti mais uma vez as falhas da formação inicial, mas tive
boas experiências e consegui realizar todas as disciplinas com êxito. Consegui publicar
artigos já das primeiras disciplinas que cursei. Também consegui realizar minha pesquisa
de forma tranquila e com resultados promissores. Consegui terminar o mestrado antes
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PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES