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O PROJETO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
a apreciação de todo o mundo, trouxeram projeções tornaram possível ao longo da história a manutenção
que renegaram valores culturais locais, em prol de do patrimônio cultural existente.
valorizações de “fachadas”, que passam a refletir
O Centro Histórico de Salvador que aqui se estabelece
meramente o contexto de uma sociedade capitalista
é a outrora denominada cidade alta. Foi o espaço
no mundo globalizado. Está se falando, portanto, da
escolhido para sediar a administração colonial, além de
sociedade de consumo. De um consumo impositivo
instalações militares, comerciais e religiosas. Foi também
e de fácil acesso para os que detêm poder político
um espaço propício para a construção das residências
e econômico, que querem se sobrepor aos usos e
coloniais portuguesas. Mais tarde, a composição social
costumes alheios, o que passa a ser bem perceptível
da população do Centro Histórico sofreu transformações
a partir de uma ideologia denunciada pela professora
significativas. Isso a partir do final do século XIX. O
Lysie dos Reis Oliveira (1998, p.54):
número de habitantes foi aumentando, surgindo a
o que possuía valor de uso, passa a ter valor de troca necessidade de ocupação de outros espaços. Novos
e consumo; assim as intervenções são apontadas bairros apareceram e houve melhorias no sistema viário,
como subterfúgios que se constituem e um meio de com a chegada dos transportes coletivos. Aos poucos,
expulsar a população de baixa renda, com pretexto pessoas de maior poder aquisitivo abandonaram essa
de conferir mais rentabilidade à área […]. área central, cedendo lugar a famílias de classe média
que, por sua vez, terminaram por deixar a região. E o
A intenção é requalificar para tornar o espaço atrativo
centro passou a ser habitado por pessoas de poucos
de acordo com normas e exigências do mercado
recursos, que não poderiam fazer frente às despesas de
internacional com vistas à exploração do turismo, ou
manutenção do conjunto arquitetônico .
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mesmo em benefício dos moradores da cidade que têm
maior poder aquisitivo. A relação sujeito patrimônio/ Acompanhando esse processo de saída da população
turismo não encontrou uma unidade na maioria dos abastada, observamos que, na segunda metade do
projetos para Salvador, principalmente porque seus século XX, a quase totalidade dos órgãos administrativos
planos e ações não previam sustentabilidade. Projetos mudou-se para uma localidade distante, passando a
culturais que pretendem valorizar espaços constituídos formar o Centro Administrativo da Bahia (CAB).
por representações identitárias e que, pelo artifício de
A administração, enquanto enraizada no Centro
um “pano de fundo” desenvolvimentista, esquecem a
Histórico, representava um Estado sempre disposto a
noção de pertencimento social, estão perpetuando a
melhorar a infraestrutura local em favor das elites. Com
não democratização do uso do espaço público.
a saída dos privilegiados e a dos órgãos públicos, ficou
Para chegarmos a uma conclusão sobre o processo de a população pobre, que passou a ocupar os grandes
inclusão ou exclusão das comunidades locais a partir de casarões.
projetos para revitalizar o Pelourinho, faremos um breve
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resumo das transformações dos agentes sociais, que 1 Ver capítulo III.
ArqueologiA no Pelourinho