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O PROJETO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
os moradores em suas habitações. O convívio, o agir, o Para responder a essas e outras questões é preciso
fazer, o sentir, seja com o tangível ou com o intangível, lembrar que, nas décadas de 1960 e 1970, predominou
mobilizam o espaço e formam a representação cultural em Salvador um discurso oficial voltado para o
de uma comunidade. turismo e para o lazer. Esse discurso surgiu como
consequência das tendências de requalificação,
A modernização das cidades, impulsionada pela
citadas nos parágrafos anteriores, e fez com que a
industrialização e pelo capitalismo do final do século
metrópole se preocupasse em:
XIX, exigia a requalificação dos espaços urbanos antigos
e/ou tradicionais em todo o mundo. É nesse momento construir, efetivamente, uma cidade que cuida de
que o poder público abre os olhos para a importância seu patrimônio […], se espera ampliar a conexão
do patrimônio cultural na cidade de Salvador. Mas que cultural dessa cidade com o mundo, principalmente
base social teriam essas tendências internacionais? através dos interesses contemporâneos de cultura
Que articulação do binômio patrimônio cultural/ e entretenimento, despontando neste plano o
comunidade seria alcançada? desenvolvimento da indústria do turismo (oliveira,
1998, p. 70).
Para obter esse desenvolvimento era preciso,
portanto, mudar o contexto de miséria, abandono,
sujeira, meretrício, ou seja, de desigualdade social
que se instalou no Pelourinho e que, segundo órgãos
oficiais, levou à degradação do patrimônio cultural.
Mas, é importante salientar que foi a permanência da
comunidade de baixa renda que garantiu a preservação,
ainda que precária, de grande parte dos casarões. Com
criatividade, os moradores não deixaram as paredes
caírem por completo, conservando o patrimônio
de acordo com as suas possibilidades. Ou seja, foi a
comunidade que não deixou o casario, com o qual
tinha uma relação de pertencimento, desmoronar por
completo pela ação do tempo.
Centro Histórico A partir da década de 1960, o poder público municipal
de Salvador na
década de 1970. criou o Programa de Recuperação dos Sítios Históricos,
programa que se preocupou com o patrimônio material,
mas que não trouxe novidades para a comunidade
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local. Houve promessas de ressocialização, de combate
ArqueologiA no Pelourinho