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à criminalidade. Porém, os jornais da época noticiavam   Patrimônio artístico e Cultural. 30 anos do Ipac nos
            claramente que a intenção do poder público era      jornais. Salvador: Ipac, 1997. edição comemorativa.
            excluir  a  população  do  Centro  Histórico/Pelourinho,   Introdução de Cândido da Costa e Silva).
            embora reportagens oficiais insistissem em um discurso
                                                             Observa-se, portanto, que a carta incorpora
            político-social. Na realidade, tal espaço passou por um
                                                             características de um discurso tradicional e oficial, pela
            “processo de gentrificação (elitização), que traz cultura
                                                             valoração excessiva do  acontecimento. No entanto, é
            e melhoramento do espaço urbano, mas ao mesmo
                                                             de se concordar que uma população renegada pelo
            tempo, promove a exclusão social”.
                                                             Estado tenha anseios e, dentre eles, a esperança de
            De  início,  quando  se  anunciou  uma  proposta  de   melhoria de vida. Porém, a comunidade desconhecia
            recuperação  do  Pelourinho,  a  comunidade  parecia   o que se pretendia implantar ali. Tratava-se do projeto
            acreditar que as oportunidades bateriam às suas portas.   Restauração de Cidades Históricas, idealizado pelo        O PROJETO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
            O jornal carioca Correio da Manhã, de 27 de novembro   primeiro diretor do Serviço do Patrimônio Histórico
            de 1968, traz o texto de uma carta enviada à redação,   e Artístico Nacional – Sphan (hoje Iphan), Rodrigo
            assinada pelo Sr. Marcos Pinheiro de Oliveira, informando   Melo Franco, que, enquanto membro  do Conselho
            o seguinte:                                      Federal de Cultura, em 1966, apresentou o plano do
                                                             empreendimento, em reunião da Unesco. Sobre o
                Divulga  a  imprensa  com  desusada  insistência   projeto, o jornal O Estado de São Paulo, de 10 de maio de
                os projetos de conservação e preservação do   1969, revelou que:
                Pelourinho, famoso conjunto arquitetônico colonial
                da Bahia […]. Se o conjunto arquitetônico é     o bairro do Pelourinho, […] será transformado em
                importante, segundo historiadores e sociólogos, o   foco de atração turística.
                conjunto humano que o habita, o povo que desde
                séculos passados […] vem habitando o bairro e   […]  serão restaurados  não  só os  mil  edifícios  dos
                constituindo, mesmo na Bahia, uma verdadeira    séculos XVIII e XIX, que compõem o bairro e que
                raça de características e formação própria, quer   atualmente estão quase desabando, transformados
                sejam negros ou brancos, ou mesmo pardos ou     em casas de cômodos, mas também calçamento,
                mulatos. […] foi geral a alegria, principalmente   o sistema de esgoto, os encanamentos. Quase
                entre os brasileiros de cor, da instalação de escolas   toda a população do bairro será transportada para
                de  alfabetização e  artes  e ofícios  nos edifícios  e   as residências fornecidas pelo Banco  nacional
                sobrados históricos, possibilitando à massa humana   de  habitação.  as unidades vazias, depois de
                sem recursos, que habita e trabalha e vegeta no   restauradas, […] serão transformadas em hotéis,
                fabuloso  conjunto  arquitetônico-humanístico,  cinemas,  teatros,  atelier  de  artistas  populares,
                elevar-se sócio-economicamente e culturalmente”   escolas de artes plásticas, salas de exposição e lojas
                (Bahia. Secretaria da Cultura e turismo. Instituto do   de objetos típicos.                                  205






            Programa monumenta – IPhan
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