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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização

               ponto de referência (LEONARDO et al., 2017), as soluções que envolvem
               mudanças em todo o processo de alimentação da vila incluem a diminui-
               ção na quantidade e na frequência do consumo do pescado, alterações
               nos modos de aquisição do alimento e amplas restrições ao consumo do
               pescado e ao uso da água no que se refere a quem pode, quanto pode
               e como pode, e ainda quanto ao uso de outras fontes alternativas. Esses
               fatores têm como um dos seus desdobramentos o aumento nos custos de
               vida e a desestruturação (ou reestruturação) da vida financeira e social de
               muitas famílias. No relatório de Leonardo e colaboradores (2017), portan-
               to, muitos desses fatores demonstraram uma significativa piora na quali-
               dade de vida e na insegurança alimentar, questões estas que ganharam
               amplo destaque na vila.
               Para nossos fins, essas alterações serão observadas no sentido, trabalha-
               do por Almeida (2013, p. 8), de que as economias políticas e ontológicas
               são intrínsecas à “produção de coisas e de pessoas por meio de coisas e
               de pessoas”, não sendo, portanto, dimensões indissociáveis da existência.
               Essa perspectiva nos permite tratar os conflitos em um nível essencial,
               tentando atribuir, assim, a real importância aos impactos sofridos pela
               população da vila de Regência no que diz respeito ao aspecto da alimen-
               tação e à sua relação com o pescado.

               Para contextualizar a economia política e ontológica da qual estamos tra-
               tando, é interessante observar algumas informações conhecidas sobre a
               comunidade de Regência, observáveis também através dos dados quanti-
               tativos levantados durante a pesquisa desenvolvida ao longo do segundo
               semestre de 2016. A comunidade de Regência é, em sua maioria, com-
               posta por pessoas relacionadas à pesca, direta ou indiretamente, que vi-
               vem do rio e com o rio (LEONARDO et al., 2017). Essa relação é estendida
               também à praia e ao mar, seja através do trabalho ou do lazer. Nos dados
               quantitativos obtidos na pesquisa em questão, a centralidade da pesca e
               do consumo do peixe é um dado muito significativo do ponto de vista
               estatístico, com 98% dos entrevistados tendo afirmado que o peixe era o
               elemento central da alimentação das suas famílias. Ainda segundo a pes-
               quisa, a frequência do consumo do peixe nas residências era grande, sen-
               do que 53,4% dos entrevistados consumiam o pescado de uma a três ve-
               zes por semana, e uma porcentagem significativa de 20,9% o consumiam
               diariamente. O prejuízo na atividade pesqueira foi também relacionado




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