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Constitucionalismo empresarial

                         Davis (1960) foi um dos primeiros a abordar o poder que as empresas têm na
                  sociedade e o impacto social desse poder. Ao fazê-lo, ele introduz o poder empresarial

                  como  um  novo  elemento  no  debate  da  RSE.  Segundo  o  autor,  a  empresa  é  uma
                  instituição social e deve usar o seu poder de uma forma responsável. De igual modo, o

                  autor refere que as causas que geram o poder social da empresa não são apenas internas,
                  mas também externas.

                         Davis formulou dois princípios que expressam como o poder social tem que ser

                  gerido: “a equação do poder social” e “a lei de ferro da responsabilidade”. O princípio
                  da equação do poder social sustenta que “as responsabilidades sociais dos empresários

                  derivam do poder social que têm” (Davis, 1967:48). A lei de ferro da responsabilidade
                  refere-se às consequências negativas da falta de utilização do poder.

                                   “Quem  não  usar  de  uma  forma  responsável  o  seu  poder  irá
                                   perdê-lo.  Quem  não  usar  o  poder  de  uma  forma  que  a
                                   sociedade  considera  responsável  terá  tendência  a  perdê-lo
                                   porque  eventualmente  outros  grupos  assumirão  essas
                                   responsabilidades” (Davis, 1960:63).

                         Segundo o autor, a equação do poder social responsável tem que ser entendida
                  através do papel funcional das empresas e dos gestores. Neste sentido, rejeita a ideia de

                  uma total responsabilidade empresarial como rejeita a ideologia de um mercado livre
                  onde  não  há  responsabilidade  empresarial.  Os  limites  do  poder  funcional  vêm  das

                  pressões de diferentes grupos. Isto restringe o poder da empresa da mesma forma que

                  constituição faz. Estes grupos não destroem o poder, mas definem as condições para
                  uma utilização responsável.

                  Teoria do contrato social
                         Donaldson (1982)  considerou a relação entre as empresas e a sociedade a partir

                  da  tradição  do  contrato  social,  principalmente  a  partir  do  pensamento  filosófico  de
                  Locke.  Ele  assume  que  existe  um  contrato  social  implícito  entre  as  empresas  e  a

                  sociedade. Este contrato social implica algumas obrigações indirectas das empresas para

                  com a sociedade. Esta abordagem visa superar algumas limitações das teorias teológicas
                  e deontológicas aplicadas aos negócios.

                         Posteriormente, Donaldson & Dunfee (1994, 1999) alargaram esta abordagem e
                  propuseram uma  “Teoria Integrativa do Contrato Social”, tendo em conta o contexto

                  sócio-cultural e também para  integrar aspectos empíricos e normativos de gestão. As
                  responsabilidade sociais provêm do consentimento. Para os autores existem dois níveis


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