Page 70 - [000783]_Neat
P. 70
Donaldson & Preston (1995:67) consideraram que a teoria das partes
interessadas tem um núcleo normativo baseado em duas idéias principais: (1) as partes
interessadas são pessoas ou grupos com interesses legitímos no procedimento e/ou nos
aspectos substantivos da actividade empresarial (as partes interessadas são identificadas
pelos seus interesses na empresa, independentemente se a empresa tem ou não algum
interesse funcional neles) e (2) os interesses de todas as partes interessadas são de valor
intrínseco (isto é, cada grupo de partes interessadas merece consideração para o seu
próprio bem, e não apenas devido à sua capacidade para promover os interesses de
alguns outros grupos, como os accionistas).
Seguindo esta teoria, uma empresa socialmente responsável requer uma atenção
simultânea aos legítimos interesses de todas as partes interessadas e tem que equilibrar
essa multiplicidade de interesses e não só os interesses dos accionistas da empresa. Os
defensores da teoria normativa de stakeholders tentaram justificar através de
56
argumentos tirados do capitalismo kantiano (Bowie, 1991; Evan & Freeman, 1988),
teorias modernas de propriedade e justiça distribuitiva (Donaldson & Preston, 1995) e
também teorias libertárias com a sua noção de liberdade, direitos e consentimento
(Freeman & Philips, 2002).
A formulação genérica da teoria das partes interessadas não é suficiente. A fim
de mostrar como as empresas têm de ser geridas e como os gestores devem agir, é
necessário um núcleo normativo dos princípios éticos. Para isso, vários investigadores
têm proposto diferentes teorias éticas normativas. Freeman & Evan (1990) introduziram
57
os princípios de Rawlsian . Bowie (1998) propôs uma combinação dos fundamentos de
Kant e de Rawls. Freeman (1994) sugeriu a doutrina dos contratos justos e Philips
(1997, 2003) propôs a aplicação do princípio da justiça, baseado nas seis características
de Rawls do princípio do “fair play”: benefício mútuo, justiça, cooperação, sacrifício e a
aceitação voluntária dos benefícios dos sistemas cooperativos. Mais recentemente,
Freeman & Philips (2002) apresentaram seis princípios para a orientação da teoria das
partes interessadas, combinando conceitos libertários e o princípio de equidade. Por
outro lado, alguns investigadores (Burton & Dunn, 1996; Wicks et al., 1994)
propuseram uma abordagem “ética feminista”. Donaldson & Dunfee (1999) mantiveram
a “Teoria Integrativa do Contrato Social” . Argandoña (1998) sugeriu a noção de bem
56
Emanuel Kant (1724-1804) geralmente considerado como o último grande filósofo dos princípios da
era moderna.
57
John Bordley Rawls (1921-2002), filósofo americano. Na sua principal obra, Teoria da Justiça, o autor
apresenta alguns contributos para resolver o problema da justiça contribuitiva.
70