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Lama Padma Samten – Nascendo no Lótus
sofrimento atrelado aos órgãos, a conexão com os órgãos dos sentidos. Mas tudo isso se dá porque já
temos a ignorância operando, isso é um detalhe dentro da ignorância.
A segunda forma de sofrimento é o sofrimento da impermanência, que naturalmente tem por base a
ignorância também, por quê? Porque nós estamos fixados a coisas, e todas as coisas são
impermanentes, e na medida em que aquilo se revela impermanente, nós sofremos. É simples, é só
isso. Não precisamos nem perguntar qual o conteúdo da impermanência. Seja o que for ao que
estejamos fixados, isso produz dor.
Também temos o sofrimento que tudo permeia, o sofrimento que chega a todos os âmbitos, que é o
sofrimento da ignorância. Só que esse sofrimento não tem cara de sofrimento, o verdadeiro
sofrimento aparentemente não dói. Por isso é tão difícil, porque a dor aparece com outra cara. A
ignorância quando dói, dói com outra aparência, então buscamos mudar aquela aparência, por isso
nunca lidamos com o problema verdadeiro. Os mestres como Gampopa, Milarepa e Atisha, quando
começam a codificar os ensinamentos do Buda e apresentar de forma didática às pessoas, eles falam
isso. Imagino que vamos estudar com mais cuidado dentro do CEBB, também, os textos de Gampopa,
e vamos ver essas categorias todas de sofrimento, esses nomes todos que pertencem à tradição
budista de entender as coisas. Então esse é o sofrimento.
O caminho
O Buda deu ensinamentos para os deuses e semideuses também, mas para os reinos inferiores é
praticamente impossível. Quando olhamos os ensinamentos provisórios do Buda, que nos levam até a
condição onde podemos reconhecer a natureza primordial, a sabedoria primordial, a energia
primordial, a luminosidade primordial, começamos a entender isso, até o ponto onde nosso foco
central se dá na compreensão de guru ioga, o aspecto último da realidade. Esse é o ponto até onde
vamos, mas nos olhamos e perguntamos por que não estamos entendendo isso, por que isso não é
possível hoje? Se isso não é possível hoje é porque falta alguma coisa, se não compreendemos aquilo,
é porque falta tal coisa, e assim, sucessivamente. Então surge algo como degraus para baixo, não
deveríamos pensar que o ensinamento budista é sofisticado para cima, ele é sofisticado para baixo.
Ele é sofisticado como um meio de poder chegar às pessoas do jeito que elas estão e poder trazê-las
até este ponto que é o anticlímax, porque quando a pessoa chega ao ponto último ela descobre que
já tinha aquilo que laboriosamente trabalhou para encontrar, e ela tem a sensação de que alguma
coisa não deu certo. Mas, por outro lado, ela também pode gerar uma experiência de encantamento,
de compreensão do tamanho de tudo isso. Essas são as nossas opções.
Então surge um caminho gradual que é chamado muitas vezes de ensinamentos provisórios, que
compreendem a maior parte do Darma; a maior parte dos ensinamentos do Buda são ensinamentos
provisórios. Os ensinamentos finais que apontam a natureza primordial são preciosos, eles são
considerados secretos. Vocês irão encontrar esse aspecto secreto várias vezes. Mas se é tão
importante, por que é secreto? É secreto porque, em primeiro lugar, é autossecreto. Ele se esconde
dos olhos das pessoas, elas olham e têm dificuldades para ver, ainda que seja simples. Depois que
elas veem, elas têm dificuldades para acreditar, porque é tão simples. Então aquilo é secreto nesse
CEBB - Retiro Araras – maio 2009 12 / 43