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Lama Padma Samten – Nascendo no Lótus


            dos bons tempos em que havia isso aqui no Brasil!! (risos). Então a pessoa ainda tem um refúgio nos
            infernos: “Não deu certo... vamos tentando, até...”.  É curioso, na visão budista, é o contrário, se não
            “deu”, então estamos com méritos insuficientes e tentamos melhorar, e não piorar. Eu conto isso
            para lembrar dessas nossas conexões com o reino dos infernos, os reinos inferiores , onde podemos
            “aprontar”. Então temos estes limites, estas fragilidades.


            Mas aqui no retiro são todos meditantes, quase iluminados, nascendo no lótus. Porém, precisamos
            dessa contrapartida,  é preciso sentir  essa fragilidade.  Agora,  essa  fragilidade, se  olharem  com
            cuidado, é uma manifestação da natureza primordial também. Em que sentido? Há, além das
            paisagens, um nível de liberdade que nos permite construí-las, construir as mandalas. Esse é um nível
            primordial, onde sempre construímos coisas positivas ou negativas. O mais importante a entender é o
            nível de liberdade. S. S. Dalai Lama, quando houve o acidente das torres de Nova Iorque, disse:
            “Nossa mente”, ele não disse “a nossa natureza primordial”, simplificou – “a nossa mente é livre e
            luminosa, ela pode produzir coisas positivas ou negativas”. Ele diz que se produzirmos ações positivas
            aquilo repercutirá bem, e traremos benefícios aos outros seres. Se produzirmos ações negativas
            aquilo produzirá sofrimento para nós e para os outros seres de longo alcance. Então, retornamos a
            esse nível de liberdade para decidir em que direção nós iremos. Mas esse aspecto de retornar ao nível
            de liberdade e decidir é um pouco complicado. Eu acredito que todos vocês já tiveram experiências
            nas quais vocês recuaram, apenas para obter tábuas mais firmes e trucidar! Uma semana depois,
            vocês se dão conta do que aconteceu, do estrago que fizeram! E como consertar?  Eu me lembro de
            um  amigo  gaúcho,  - para  vocês  verem  como  são os  homens  gaúchos,  estou prevenindo!  -  o
            relacionamento dele não estava muito bem, então ele deu um carro novo para ela. Não confiem
            nisso! A coisa continuou mal, ele não obteve o resultado que aspirava. Aí ele disse a ela para se
            separarem. Resolveram se separar e ele pediu o carro a ela de volta! Ela disse: “Não! Você me deu o
            carro, agora o carro é meu!” Ficaram naquela briga, ele pegou um bastão e quebrou todo o carro,
            amassou tudo. Só que depois ele teve uma recaída – “mas eu não quero me separar!” Aí ela aceitou e
            ele teve que mandar consertar o carro... Se tivesse pensado um pouquinho mais, num meio mais
            hábil... Então precisamos olhar com cuidado, é muito melhor olhar de forma positiva e dizer: “Bom, se
            agora não está funcionando, está bem!”

            Mas então tem um jeito que funciona ainda melhor: “Da minha parte você tem o meu apoio”.
            Olhamos positivamente, ganhamos méritos, aprendemos com isso e ultrapassamos as aflições. De
            modo geral não pensamos assim, temos um impulso perturbado, mas tem um ponto em que
            acontece algo particular que precisamos entender. Vamos supor que alguém esteja na paisagem dos
            infernos, que seja arrastado. Essas disputas acontecem. Qual é o poder que a mente tem de agir de
            forma equilibrada, positiva, se estivermos na paisagem dos infernos? Se o outro é um monstro que
            precisa ser extirpado da face da terra? Vamos ter a sensação de abuso, o outro está abusando! Frente
            a isso, as ações tidas como positivas parecem fora de contexto. Assim encontramos um monstro
            claramente diante de nós, agora é hora de avançar, e avançamos! É certo que passam os dias e nos
            damos conta de que aquilo foi uma loucura, estávamos tomados por alguma coisa. O que é essa
            “coisa” que nos tinha tomado? Estávamos tomados pela paisagem.   Logo o nível de paisagem é
            crucial, se trocarmos de paisagem a mente vai junto facilmente. Se não trocarmos de paisagem a
            mente seguirá a paisagem em que estava operando.  Parece muito inapropriado numa paisagem de




            CEBB - Retiro Araras – maio 2009                                                            20 / 43
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