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Lama Padma Samten – Nascendo no Lótus
conflito, de disputa, usarmos uma mente compassiva, parece fora de propósito. Porém, se nos
colocarmos numa paisagem de sabedoria, a mente compassiva brotará naturalmente.
Quando pensamos em conter a ação negativa, pensamos em contê-la com disciplina. Mas só a
disciplina não vai resolver, ela vai nos deixar sempre engasgados, ela não tem o poder de ultrapassar
um certo ponto. Agradecemos por ter disciplina e não ter feito aquela bobagem: “Foi algo iluminado
ter usado esta disciplina”, mas na hora não achamos isso apropriado. Eventualmente se nós temos
situações recorrentes, como de família, trabalho - no dia seguinte, de novo; no outro dia, novamente
- seguimos tratando com as mesmas pessoas, as mesmas dificuldades, então lá pelas tantas, achamos
que alguma coisa heroica precisa ser feita. Mas esta coisa heroica pode não surgir e nos deixar
mágoas com as sabedorias, religiões e podemos pensar: Deus não existe, Buda não existe! Não tem
cabimento, uma pessoa abusa e é vitoriosa! Isto nos coloca nas paisagens dos infernos, esta
paisagem não nos permite um pensamento lúcido. Nós vamos contendo e achamos que o uso da
disciplina está equivocado. O ponto é: nos deparamos com uma ação negativa, mudamos a paisagem
para uma melhor, correta, a nível de mente, energia e corpo e tudo se arruma.
Mas isso é um pouco heroico, um pouco difícil, por isso tem este aspecto preventivo, funciona como
vacina. Tem uma vacina universal contra os seis reinos, essa vacina é assim: se nos colocamos numa
mandala, já estamos na mandala! Não temos que “ligar” a mandala, ligar a paisagem positiva. É muito
mais difícil a coisa surgir. Por exemplo, um médico num pronto socorro vê pessoas muito
machucadas, não é bonito de ver. Se ele está na paisagem correta vai dizer: estou no lugar certo,
estou ajudando estas pessoas; se ele está na paisagem equivocada ele dirá: o que eu fiz? O meu
trabalho é ver coisas horríveis! Eu devo ter feito coisas horríveis em vidas passadas para estar aqui!
Eu devo ter feito coisas assim antes e agora estou consertando! Ele pode ficar assim, amargo. Não se
dá conta dessa outra paisagem. Imagine um psiquiatra numa paisagem assim! O dia todo com um
louco a sua frente, o que ele vai pensar?! Eu, às vezes, penso isso também! Que foi que eu fiz...? A
solução é trocar de paisagem urgente!! Aí penso, estou aqui para beneficiar os seres, e pronto. Então
já estamos na paisagem positiva, e quando chega a hora, damos nascimento positivo para o outro
dentro daquela paisagem. Se o outro se comporta muito mal, a gente pensa: “Ele está fazendo isso
comigo”, e olhamos aquilo com sabedoria. Esse comportamento horrível está causando todo o
problema que a pessoa está manifestando, causando mal para ela mesma. Podemos nos colocar na
posição. Se vemos um mexicano espirrando, desejamos que ele se livre disso, e eu também!! Se
vemos alguém agir de forma negativa, sabemos que aquilo não é bom, mas também não geramos
aversão. Não só damos um nascimento positivo, mas reconhecemos a natureza primordial no outro,
que o outro pode fazer diferente, estabelecemos um vínculo permanente com o outro. Decidimos
não abandonar o outro. Se pudermos lançar uma corda positiva, mínima que seja, o fazemos. A
pessoa que está fazendo ações negativas é batida pelo samsara o tempo todo, se sinalizarmos
positivamente a pessoa retorna na direção onde há uma tênue luz positiva, e essa pessoa virá. Então
podemos ajudar em outro contexto, a pessoa está numa posição mais positiva agora. Isso é
matemático, realmente funciona. Esse é um método pelo qual não somos “bobos”, nem “trouxas”
por ajudarmos, mesmo que nos machuquem. Não significa se deixar abusar. Exercemos uma posição
positiva que é capaz de tirar as pessoas de dentro dos infernos. Os infernos são encontrados em
lugares piores, nos mais difíceis. Por quê? Porque as pessoas que estão dentro dos infernos só
pensam coisas infernais. Mas nós pensamos: ela vai ter um pouquinho de boa vontade em algum
CEBB - Retiro Araras – maio 2009 21 / 43