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Lama Padma Samten – Nascendo no Lótus
olhar situações que já vimos e tomar uma situação corrente que não está resolvida e tentar olhar com
esse olho da sabedoria do espelho.
Tatata
Agora vou introduzir outra palavra, que é tatata, a expressão de como opera a mente do Buda, como
opera a sua própria mente. Isso pode ser traduzido como dupla realidade, é novamente a sabedoria
do espelho: nós entendemos o outro no mundo dele, mas estamos livres da fixação à forma dele
entender o mundo. Esse é o aspecto da verdade absoluta, nós temos a verdade absoluta e a verdade
relativa. A verdade absoluta é a grande espacialidade. Eu vejo a onda no lago, mas sigo entendendo
que a realidade do lago não são as ondas. Por exemplo, um terapeuta diagnostica o que ele tem, mas
não prende o outro no que ele apresenta, ele segue livre para imaginar como o outro sairia daquilo.
Não fica preso no diagnóstico, senão não seria sabedoria do espelho, seria uma tentativa de falar de
algo absoluto e externo independente, fixo. Na visão budista isso seria um engano, seria
incompreensão da vacuidade. A essência da sabedoria primordial, que é uma das faces de tatata (o
outro lado é a sabedoria comum), é o ponto da vacuidade em que se reconhece que as coisas são
todas construídas, não há algo que não possa ser construído, logo não há algo que não possa ser
desatado. É a compreensão da noção do lenço com um nó, a sabedoria primordial vê as coisas como
nós atados sobre um lenço original. Nós podemos sempre desatar. Nós podemos não saber como
desatar, mas aquilo é desatável. Então, dupla realidade é isso, entender a configuração de um lado
que está operando, e de outro lado que aquela configuração pode se dissolver. Aqui eu descrevi a
sabedoria do espelho.
A sabedoria da igualdade
A segunda sabedoria é a sabedoria da igualdade. Ela também tem uma conexão com tatata. Por
exemplo, o aspecto primordial da sabedoria da igualdade é o fato de que não estamos presos a nossa
própria identidade. Quando nós olhamos as outras pessoas não precisamos ficar olhando se
ganhamos ou perdemos alguma coisa com isso. Se tivéssemos fixado nossa identidade com uma única
forma, não teríamos outra forma de operar. Mas a nossa natureza é livre de nós mesmos. Quando
vocês percebem que andam meio cansados de “si mesmos”, ótimo! Tirem umas férias, que nada vai
acontecer, nós temos esta liberdade. Um exemplo disso é que olhamos as outras pessoas no mundo
delas e podemos aspirar que elas tenham uma experiência melhor, e aí nos alegramos. Podemos
aspirar que elas superem o sofrimento, e nós nos alegramos... Podemos nos engajar para que elas
tenham algo melhor, e vamos nos alegrando. É como sentem as mães e seus bebês, elas não têm a
sensação que estão fazendo pelo bebê, mas há uma recompensa, elas se sentem felizes. Essa é a
sabedoria do espelho, olhamos para o outro e vemos igualdade, não há separação.
Podemos manifestar essa igualdade porque nós não somos alguma coisa, somos este aspecto plástico
que é capaz de aderir e de se alegrar com o outro. Então, de um lado a sabedoria primordial,
liberdade diante de nós mesmos, e do outro lado a sabedoria relativa de entender o outro no seu
CEBB - Retiro Araras – maio 2009 26 / 43