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Lama Padma Samten – Nascendo no Lótus
realidade fica ambígua, ininteligível diante de nós. As realidades correm para um lado, daqui a pouco
correm para outro lado, não temos a menor ideia do que está acontecendo, portanto não sabemos
agir no meio disso. Aqui estamos lidando com isso: as pessoas que rejeitam as visões, não rejeitam as
circunstâncias que estão vivendo, mas rejeitam aprofundar a observação daquilo que estão vivendo.
Eu diria que o método melhor é aguardar, ajudar a compreender melhor e não perder o contato.
P: A sabedoria de Darmata nos ficou um pouco obscura...
R: Num jogo de futebol imaginamos: para o vencedor, a glória; para o perdedor Darmata! Espaço
básico: enfim isso não era nada mesmo, só um campeonato... É algo construído, o que vale mesmo é
a natureza primordial, de lá brotam todas as coisas, evidente! Mas é muito protetor que nem o
vencedor pense assim, ou seja, a sabedoria de Darmata retira o aspecto crítico das coisas, também
podemos dizer: quando tudo está perdido, não está nada perdido! Quando está tudo errado, não está
nada errado! Isso se mistura um pouco à sabedoria de Vajrasatva, sabedoria da natural perfeição de
todas as coisas, ou seja, todas as coisas brotam, ganham um sentido mágico, e se formos contra o
sentido mágico isto é inútil. O sentido mágico é apenas um sentido mágico, se vai sofrer por passar
pelo sentido mágico, nem tem razão, nem para nos rejeitarmos ou nos filiarmos. A sabedoria de
Darmata nos dá esta tranquilidade, ela propicia o destemor. Por exemplo, se eu for vitorioso, eu
também tenho medo, por incrível que pareça, então o medo está sempre presente. A sabedoria de
Darmata ultrapassa isso.
É sempre bom ver o aspecto mágico, onírico do sofrimento. Isso é a dupla realidade. Quando você vir
o sofrimento, por dentro dos seus olhos, já terá esta visão toda. Por outro lado é necessário que não
nos coloquemos acima do outro, nem abaixo. É muito comum quando damos auxílio, no sentido
convencional, nos colocarmos abaixo do outro e jogarmos algo paro o outro. Deveríamos evitar isso,
porque a natureza de todos é igual, precisamos entender isso. Às vezes eles precisam andar nas
nossas costas, também.
P: Como harmonizar os níveis de sabedoria no corpo, fala e mente?
R: Para harmonizar corpo, fala e mente nas sabedorias, precisamos estar na paisagem. A paisagem
rege, naturalmente, sem esforço. Do contrário não conseguimos, é muita demanda para harmonizar.
Achamos que temos que fazer uma certa posição de mente, mas não conseguimos, e aí vamos
descobrir que não é nossa habilidade de controlar que está falhando, é a paisagem! A nossa mente
obedece à paisagem, ela opera desse modo. Se criamos uma paisagem e começamos a dar ordem
para a mente fazer outra coisa, ela resiste, subverte. Ela pode até fazer, mas vai ficar algo torto.
P: Este exercício em grupo proposto pelo Lama neste retiro já é um exercício das cinco sabedorias:
acolhemos, ouvindo o outro; vemos a igualdade entre nós; ao explicar os problemas de cada um
dissolvem-se os nós destes problemas; aplica-se a causalidade, vendo onde se cria o carma, e
Darmata dá base a tudo isso...
R: Este é um ponto interessante, isso faz parte realmente do método. Olhem isso com cuidado,
porque, aparentemente, estamos trabalhando aqui individualidades, não é? Mas, na verdade,
estamos trabalhando em torno de 90 pessoas aqui neste retiro, ao mesmo tempo! Eu acredito que
não há outra forma de avançarmos rápido a não ser trabalhar um a um no planeta inteiro. Este tipo
CEBB - Retiro Araras – maio 2009 31 / 43