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Lama Padma Samten – Nascendo no Lótus
lugar, um pouquinho de disciplina, então ela lá pelas tantas acorda e anda. É muito difícil. Nos reinos
dos infernos as coisas estão ruins, as pessoas vão ficando piores, como certos animais acuados. Na
verdade é um ser que está acuado. Como um animal enjaulado, todo dia alguém o alimenta, é uma
ação positiva, e ele associa que aquilo é algo positivo. Então, para os seres que estão presos assim,
entendemos que talvez seja impossível sair por disciplina própria. Nós não vamos convencer alguém
que está no reino dos infernos a mudar a visão, achar que o mundo é favorável e que ele deveria
fazer o bem. Isso é improvável, ele nem escuta você. Mas, mesmo assim, ele entende onde há uma
luz positiva. Aí vocês manifestem uma luz positiva e apenas façam o voto unilateral, eterno. Unilateral
porque não depende do que o outro está fazendo, é um voto definitivo. E aguardem, porque os seres
dos infernos estão apertados, aí vem uma direção, uma luzinha, mas eles nem veem isso. No meio
daquilo eles lembram, mas se sentem pressionados, mais do que atraídos estão pressionados pelo
que é negativo. Por exemplo, numa enchente todos vão para os lugares mais elevados, não porque
aquele lugar seja atraente, mas porque os outros lugares estão horríveis. Da mesma forma, não há
sinalizações positivas na maior parte dos casos, as pessoas não sabem para onde ir, não sabem dar
nascimento, estão todos dentro de algo onde não sabem dar nascimento positivo.
Nós estamos num tempo do limite da compreensão do caminho do ouvinte, houve um tempo em que
acreditávamos, agora é quase uma retomada à Idade Média. O caminho do ouvinte cria um monstro,
a pessoa descobre que o monstro está dentro. Esse é o drama, a pessoa se arruma de modo vitoriano,
mas ela carrega dentro um monstro, ela não quer que o monstro apareça, mas ele aparece. Quando
pensamos sobre esta dicotomia propiciada pelo caminho do ouvinte, ou seja, eu sigo a regra ou eu
não sigo a regra, a gente pensa, este mundo está perdido, não tem chance. Isso é a origem da visão
racista, nazista ou fascista, onde existem os povos que estão corretos, e outros que não têm jeito. Isso
dá origem aos paradoxos, entre aqueles ditos inferiores surgem exemplos maravilhosos de
compaixão. Mas, mantendo o sinal positivo aos seres dos infernos, que pode ser débil, mas
constante, devido a nossa manutenção na mandala, mesmo as pessoas que têm características muito
negativas acabam vindo, empurradas pela própria negatividade que produz muito sofrimento. Esse
sofrimento vai surgir como uma pressão, onde houver um furinho ele vai tentar sair por aí. Mas ele
sai por ali não porque sabe que aquilo é positivo, ele pode até pensar: aqui tem um trouxa, esse eu
vou enganar - porque a pessoa dos infernos só tem essas ideias - não importa, ele se movimenta e
aos poucos vai perceber como aquilo se dá e ainda vai testar essa dimensão, na medida em que a
pessoa que ele está querendo atingir não é atingida, ela segue de forma positiva. Assim ele descobre
que essa ação positiva é mais forte, e então, vai buscar isso. Autocentrado, ele vai fazer a coisa
melhor, depois ele vai se livrar desse autocentramento. Ele vai indo, os infernos são muito fundos.
Nós precisamos, preventivamente, entrar numa mandala de sabedoria e não abandoná-la. Eu conheci
um sheik islâmico que era um mestre sufi, e o ponto central também é este, um ponto primordial,
eles colocam Deus num ponto primordial, e a fidelidade absoluta a este aspecto primordial. O
budismo é isso também, mas nós vamos precisar do caminho do ouvinte, precisamos de disciplina,
mas devemos ter a noção da limitação e dos efeitos colaterais do remédio que estamos utilizando.
CEBB - Retiro Araras – maio 2009 22 / 43